Brincando com Palavras

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

terça-feira, maio 31, 2011

Olhos de Fogo

Uma manhã ela descobriu o poder que havia em seus olhos. Era menina ainda quando aprendeu a usar a magia que vivia dentro do seu olhar. Com eles atraía, conquistava, dominava e aniquilava. Se ela desejava algo era só procurar os olhos da outra pessoa, fixar bem e o oponente se sentia hipnotizado. Assim conquistou parentes, professores, amigos. Mas se ela quisesse, era só fechar os olhos e se tornava invisível ! Aí usava desse sistema se numa festa não queria conversar com ninguém. Se estivesse num transporte, sabia exatamente quem sentaria a seu lado, pois assim que alguém entrava no veículo ela jogava o olhar ou não, então a pessoa se sentava a seu lado ou ia para outro banco como se não existisse aquele lugar vago. Desse jeito ela aproximou quem desejou e afastou quem não a interessava.
Numa tarde ela atraiu vários homens, todos caíam em sua armadilha. Teve vários amantes, pois ninguém resistia àqueles olhos de fogo. Casou-se com o homem mais poderoso da cidade e ele morreu literalmente de amores por ela. E ela se tornou a mulher mais poderosa da cidade. E todos a obedeciam sem questionar. Era impossível fugir ao poder daquele olhar.

Uma noite ela se apaixonou por um rapaz que trabalhava em uma de suas fazendas, mas por mais que ela se esforçasse ele só tinha olhos para uma outra moça. Então ela resolveu chamá-lo em sua sala para uma conversa, ela sabia que ele não resistiria ao seu olhar. Mas o moço era respeitoso e, enquanto falava com a patroa, fitava o chão. Não achava correto encará-la. Podia parecer abuso. E ela, viu-o saindo da sala sem tê-lo conquistado. Ela entendeu que teria que mudar seus planos. Mandou chamar a moça. Ao vê-la entrar no frescor de sua juventude, ela percebeu que teria que destruí-la e só assim o rapaz seria seu. Com seus olhos de fogo fitou aqueles olhos límpidos como a fonte de um rio. A moça sentiu um arrepio de morte e voltou pra casa enfraquecida. Em dois dias morreu!
Na madrugada ela chamou o rapaz para consolá-lo, mas ele triste demais, preferiu ir ao penhasco e de lá se jogou. Ao saber de tamanha tragédia, pela primeira vez ela chorou por não ter conquistado o único homem verdadeiramente amado e ficar sozinha, sem ele, ela não aguentaria. No desespero do amor perdido, ela só viu uma alternativa: sentou-se de frente ao espelho, fitou aqueles lindos e hipnotizantes olhos de fogo durante toda a noite.
Na manhã seguinte os empregados encontraram-na morta em frente ao espelho.

domingo, maio 29, 2011

Dona - Tema Musical





Dona desses traiçoeiros
Sonhos sempre verdadeiros
Oh! Dona desses animais
Dona dos seus ideais

Pelas ruas onde andas
Onde mandas todos nós
Somos sempre mensageiros
Esperando tua voz

Teus desejos, uma ordem
Nada é nunca, nunca é não
Porque tens essa certeza
Dentro do teu coração

Tan, tan, tan, batem na porta
Não precisa ver quem é
Pra sentir a impaciência
Do teu pulso de mulher

Um olhar me atira à cama
Um beijo me faz amar
Não levanto, não me escondo
Porque sei que és minha
Dona!!!

Dona desses traiçoeiros
Sonhos sempre verdadeiros
Oh! Dona desses animais
Dona dos seus ideais

Não há pedra em teu caminho
Não há ondas no teu mar
Não há vento ou tempestade
Que te impeçam de voar

Entre a cobra e o passarinho
Entre a pomba e o gavião
Ou teu ódio ou teu carinho
Nos carregam pela mão

É a moça da Cantiga
A mulher da Criação
Umas vezes nossa amiga
Outras nossa perdição

O poder que nos levanta
A força, que nos faz cair
Qual de nós ainda não sabe
Que isso tudo te faz
Dona! Dona!
Dona! Dona! Dona


Roupa Nova
Composição : Sá & Guarabyra

Pra salvar meu coração

Você me pergunta: "por quem você está apaixonada? Sim! por que você está apaixonada!" Eu lhe respondo com a luz da Lua brilhando em meus cabelos: "estou apaixonada pelas palavras! Pelas palavras que durante as madrugadas nascem no coração, se ajeitam na mente, dançam nos dedos, surgem no monitor e de lá pulam para meu peito! Estou apaixonada pelas palavras embebidas em vinho que me embriagam e me deixam tonta de desejo e encantamento. Simples assim como uma pipa voando no céu!"

Palavras para se apaixonar:

A minha musa é uma mulher
desvairada e santa, faca ou colher
devaneio de um rumo sem freio
um desejo insano e partido ao meio

A minha musa me confunde
porque é feita de tanta noite
e de tão pouco dia
que só de lembrar, já me arrepia

Por isso, pra conquistá-la
coloco vinho nas palavras
que é pra embriagá-la
De mim e da minha poesia.
(André Aquino)

quinta-feira, maio 26, 2011

Triste Engano

Quando ela voltava do colégio passava por uma grande praça. Chamavam-na de praça, mas era somente um terreno no meio de algumas ruas. Não tinha bancos, brinquedos ou qualquer coisa que se pudesse chamar aquele espaço de praça.
Do outro lado da "praça" ela via o rapazinho vindo de bicicleta. Era o tempo certo dela andar até a esquina, ele a encontrar e seguir, na bicicleta ao lado dela. Nada era dito, nem se olhavam. Ela caminhava do lado de dentro da praça e ele ia seguindo-a do lado de fora, até chegarem na outra esquina, onde ela seguia em frente e ele retornava para sua casa.
Ela, abraçada a seus cadernos e livros adorava aqueles poucos minutos e se divertia com a timidez do rapaz. Alguns dias ela o provocava, andando bem mais devagar do que costume, o que o fazia descer da bicicleta e sair caminhando, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
No dia seguinte lá estava ela em seu uniforme e meia três-quartos, O cabelo em uma interminável trança presa por um laço de fita branca. Ela apontava na praça e ele apontava do outro lado. Precisos como um relógio.
Um dia, não houve aula e ela resolveu fazer o trajeto assim mesmo. Queria que ele a visse sem o uniforme.
Colocou um vestido amarelo com bordadinhos  e deixou os cabelos soltos.
Pediu à mãe que a deixasse dar uma volta com a prima ainda bebê em seu carrinho. A mãe não viu nada demais, e lá foi ela empurrando o carrinho com a prima/bebê dentro.
Ela apontou na praça e ele lá do outro lado montado na bicicleta a viu e não entendeu o que viu.
O vento balançava o cabelo dela quando ela o viu fazendo a curva com a bicicleta em direção contrária a ela.
Ela parou o carrinho e ficou vendo-o ir embora. Nunca mais ela o viu novamente, nem seu nome ela soube.
Em casa a mãe do rapaz não entendeu quando o viu chegar com o rosto vermelho, se dirigir até o barracão nos fundos do quintal e pendurar a bicicleta no alto da parede. Nem entendeu porque os passeios à tarde
terminaram e por que seu filho passou a viver no quarto.
A bicicleta, única testemunha do que havia acontecido, ficou lá pendurada, até enferrujar.

quarta-feira, maio 25, 2011

Para sempre Bailarina

A maravilhosa bailarina Marilena Ansaldi, de 76 anos, faz uma participação mais que especial nesse clip, dirigido por Wagner Moura, interpretando a própria Vanessa Da Mata, cantando "Te Amo".
Lindo Clip



Mas o pior não é não conseguir
É desistir de tentar
Não acredite no que eles dizem
Perceba o medo de amar
Eu cresci ouvindo anedotas, clichês e
chacotas
Frustrações
Sobre amasiar, se casar
Se entregar seria fraquejar

Te amo, te amo, te amo

E se o tempo levar você
E um dia eu te olhar e não te reconhecer
E se o romance se desconstruir
Perder o sentido
E eu me esquecer por ai
Mas nós somos um quadro de Klint
"O Beijo" para sempre fagulhando em cores
Resistindo a tudo seremos
Dois velhos felizes
De mãos dadas numa tarde de sol
Pra sempre

Te amo, te amo, te amo

segunda-feira, maio 23, 2011

Meninas sensíveis

A menina passeava pelo jardim de casa e avistou um caramujo. Encantada com o pequeno animal ela se deitou no chão para melhor apreciá-lo. Sua casa-caracol era como madre-pérola em tons de rosa e dourado. Se arrastava lentamente balançando as anteninhas de um lado para o outro como se sentisse o cheiro do ar. Acompanhando o passeio do animal a menina viu que na outra extremidade do caminho vinha um outro caramujo. Ela resolveu ajudá-los ano encontro e foi retirando tudo que pudesse ser obstáculo ou que mudasse o rumo de um deles. Tirou pequenas folhas, galhos, pedrinhas. Ficou ali, deitada, esperando os dois se aproximarem. Quase dormiu, apoiada nos braços. Quando finalmente os dois se encontraram e encostaram suas anteninhas um no outro, a menina derramou uma lágrima, sem nem entender o por quê.
Da janela de casa, sua mãe a observava preocupada. Pensava o que estaria fazendo a menina deitada entre as flores do jardim? estaria ela observando o caminho das formigas até o formigueiro ou simplesmente vendo o capim crescer, ou esperando uma flor abrir suas pétalas, como ela, menina sensível,  muitas vezes fizera?

sexta-feira, maio 20, 2011

Palmas para Professorinha?

"Um país é feito de homens e livros" (Monteiro Lobato) e de professoras de atitude!


O vídeo da Professora Amanda Gurgel, do Rio Grande do Norte, falando aos deputados em audiência publica em que ela discursa sobre a situação crítica da educação no Brasil, já recebeu mais de 54 mil visualizações na Internet.
É impossível não compará-la a Heloisa Helena, seja pelo sotaque, pelo físico de menina ou pela atitude corajosa.
Vê-la falando com tanta objetividade é acreditar ainda em nosso ensino.
Professores como ela, trabalham por paixão, não para ficarem ricos ou receber aplausos. Mas, saco vazio não fica em pé, e até eles, que se alimentam de conhecimento, precisam das coisas básicas para a própria
sobrevivência e de seus familiares. Não pedem muito, pedem respeito e reconhecimento.
Como qualquer outro profissional, um professor não pára no tempo só por que se formou. Ele precisa continuar estudando, lendo, fazendo cursos para se manter atualizado. Como fazer esse milagre com o salário que ganham?
De certo há outros tipos de professores, como em qualquer profissão, que não se importam com seus alunos, e só se apresentam em sala de hora para marcar ponto.
Não estou falando desses, que já se desiludiram com o caminho que escolheram.
Falo da Professora Amanda, de minha mãe, que também é professora, de minha tia e de outras que conheço e que se doam para educar jovens e crianças.
Essas não tem um Marea que as leve ao trabalho, no máximo conseguem comprar um Fusca, onde carregam no banco de tras os livros, mapas, globos, revistas, jornais, enfim, material didático para complementar a educação de seus alunos.
Adoraria assistir uma aula da Professora Amanda, pois vê-la crescer diante de nossos olhos e silenciar a sala dos deputados foi pouco. Foi David liquidando o Golias.
Ela fez a parte dela majestosamente, se eles farão a deles é outra história, depende até de como eles guardaram na memória a lembrança de uma antiga e querida professora.
Os deputados infelizmente não se sentem constrangidos com nada! Alguns se mexiam nas cadeiras, outros pareciam apáticos, poucos batiam palmas (provavelmente os amigos que a acompanharam).
Professora Amanda não quer palmas! Professora Amanda quer resultados!
Professora Amanda não quer ser heroína, ela escolheu ser Professora! e como tal tenta "educar" quem até hoje, mesmo adulto, ainda não aprendeu nada.

quinta-feira, maio 19, 2011

Maria, Maria - Parte 6

Dona Carol providenciou camisetas e a sopa quente. Quando Maria e as meninas já estavam se dirigindo à área a bondosa senhora informou que elas dormiriam no quarto do filho dela, pois ele havia avisado que, por causa da chuva, dormiriam fora. Maria de pronto não aceitou, seria abuso demais dormir no quarto do doutor, mas quando olhou para suas meninas, achou que não era justo deixá-las dormindo no chão gelado de ladrilho.
Ao fechar a porta do quarto e fazer um sinal de silencio para as meninas, Maria não se conteve e se jogou na cama ao lado das filhas. As três riam debaixo do edredon fofo, cheiroso, que tantas vezes Maria havido lavado e passado. O quarto estava quente e elas puderam sentir o colchão de mola em suas costas. Uma sensação maravilhosa. Ela pode olhar o aposento e viu na parede oposta à cama, uma grande estante repleta de livros, uma mesa com papéis, um pote com várias canetas e lápis. Nos dias de faxina ela nunca havia observado o quarto dessa maneira. Naquele momento decidiu que suas meninas precisavam entrar para escola da comunidade, que elas não passariam as mesmas necessidades que ela, que o mundo tinha coisas melhores para oferecer a quem se esforça. Quando estavam quase dormindo Marina disse para a mãe que aquele era o barraco mais bonito que ela já tinha visto!
Na manhã seguinte, após o café, Maria e as meninas agradeceram a generosidade da senhora e retornaram à favela. O sonho dourado havia terminado.

quarta-feira, maio 18, 2011

Como livro


Quando eu estiver contigo no fim do dia, poderás ver as minhas cicatrizes, e então saberás que eu me feri e também me curei. (Tagore)

Elas estão todas lá, escrevendo minha história. Cada uma tem sua mensagem, sua lembrança.                                                                                São momentos vividos!  A cada dia, cada ano, cada década elas foram adicionadas com a caligrafia dos tempos. São testemunhas e delas não posso me afastar. Elas provam que vivi, engravidei,  tive filho.
Algumas tem data de nascimento, nome e sobrenome. Quem souber lê-las saberá que em algumas ocasiões elas foram criadas para que eu pudesse continuar vivendo. Se continuo viva é por que elas passaram a existir. E se são perfeitas, agradeço às mãos dos cirurgiões. Outras lembram que chorei muito, mas que também ri muito. Essas foram crescendo junto comigo e estampam meu rosto. São minhas companheiras de existência e não posso me envergonhar delas. Outras me fazem lembrar o que o Sol é capaz de fazer quando teimamos em adorá-lo sem proteção, mas elas me lembram também dos momentos divertidos passados para que elas surgissem. São as estrelas do céu na minha pele.
E elas estão todas lá no meu corpo: minhas cicatrizes, sardas, estrias e rugas.

segunda-feira, maio 16, 2011

Entre Tios e Tias

A verdadeira felicidade está na própria casa, entre as alegrias da família.” Leon Tolstoi

Por toda a minha infancia vivi rodeada de tios maternos e paternos. Até onde me lembro sempre havia um morando em nossa casa, ou passando temporada, até todos morarem juntos definitivamente.
Mas um período foi um dos mais interessantes e influenciadores em minha vida de criança. Foi formado um grupo formidável em nossa casa.
Morávamos, minha mãe, meu pai, eu e meu irmão, numa grande casa no Engenho de Dentro. Sempre que passo por ela me vem uma saudade de um tempo divertido. A construção antiga era de beira de rua, com uma águia pousada no alto da fachada. Ao abrir a porta nos deparávamos com um salão, depois no lado direito tinha um grande corredor com várias portas à esquerda dando entrada para os quartos. Ao final do corredor havia uma sala, que fazíamos de sala das refeições, depois uma grande cozinha e o banheiro. Em minha lembrança tudo era grande, talvez por eu ser criança. Nessa época eu tinha uns seis anos, quem sabe menos, e meu irmão, uns três anos. Ao lado da casa haviam um terreno repleto de árvores frutíferas, onde de vez em quando um tio pulava o muro para catar jabuticabas, goiabas e laranjas.
Logo que nos mudamos vieram morar conosco algumas pessoas da família do meu pai: meu tio paterno mais novo, ainda um rapazinho; minha única tia paterna, separada do marido; minha "vó Elisa",  que havia criado todos os irmãos de meu pai; o filho dela, tio Kleber; tio Arley, um amigo de vó Elisa; e mais tarde meu tio Joel, irmão da minha mãe.
Junto a meus pais, eles eram um grupo de pessoas totalmente diferentes que formaram a pessoa que sou hoje.
Meu tio Alberto, o irmão mais novo de meu pai, gostava muito de desenhar e contar piadas. Ainda adolescente seus cabelos ficaram grisalhos, o que o tornava estranhamente bonito. Sua irmã Venitize não teve filhos, era carinhosa e mimava a mim e a meu irmão. Era namoradeira, e por causa dela, fiz muitos passeios de bonde, que passava em nossa porta, até o Meier. Vó Elisa era filha de escravos e por toda a vida serviu de babá na casa de meus avós. Era uma mulher inteligente, divertida  e em seu frágil corpo cabia muita sabedoria. Seu único filho Kleber era um fanfarão, estava sempre envolvido em algum novo negócio, mas nunca trabalhava! Em casa ele me ensinou a dançar doando seus pés para que eu subisse neles enquanto ele bailava. Quando vó Elisa veio morar conosco trouxe junto o tio Arley, um negro alto e magro, parecia um daqueles reis da África. De inteligência curta, mas de uma doçura sem fim, anos depois foi encontrado morto em Cascadura, e a única coisa dentro de sua carteira era uma foto minha, quando criança. Meu tio Joel, irmão de minha mãe, entre os rapazes era o mais velho, era um homem do mundo, cheio de perguntas sobre a vida e seus mistérios. Falava inglês, lia e estudava muito, era um galanteador e conquistava muitas mulheres. Só sossegou quando casou-se com minha tia Bephie, uma holandesa, que lhe deu filhos e foi sua companheira e amada esposa.
À noite, após o jantar, sentávamos na sala de refeições para ouvir rádio. Não havia televisão na casa e esse era o meu momento preferido. Ouvíamos novelas e depois músicas. Meus tios me tiravam para dançar enquanto meu irmão, em sua cadeirinha, batia palmas.
As vezes a casa parecia um local de loucos, como por exemplo, na noite em que várias mãos pousaram no mesmo interruptor do corredor para acender a luz. Na escuridão todos gritaram juntos! Ou, quando vó Elisa acordou de madrugada e não encontrou a porta do quarto e passou metade da noite apalpando as paredes até achar a maçaneta! E quando minha mãe me forçando a comer não viu que na sopa caiu um "bicho de luz" e eu tive que comê-lo aos olhos de todos, que nada disseram por medo dela!!
As histórias são muitas e hoje, me deparo com a realidade de que daquele grupo só restam eu, meu irmão e minha mãe! Todos já se foram! Espero que onde estiverem, estejam juntos fazendo a alegria de alguma menina que por lá precise de carinho, abraços, risos e danças. Eles são ótimos nessas coisas!

sábado, maio 14, 2011

Os ingleses

Diziam que a família imigrara para o Brasil na época da guerra. A mãe morreu quando eles tinham onze e nove anos e eles foram criados pelo pai. Os dois irmãos ingleses cresceram no Rio de Janeiro sob a guarda de um pai dedicado mas severo até ele morrer, quando os dois ainda  entravam na adolescência. Terminaram os estudos tutelados por um tio idoso. Viveram assim sem uma presença feminina em casa.
Os dois se formaram em literatura inglesa. Ótimos professores, eram sempre escolhidos para o discurso de formatura de seus alunos. Suas aulas eram sempre interessantes, mesmo no tom sério dos ingleses, eles sabiam conquistar os jovens. Em aula conversavam sobre política, religião, família, amor, amizade. Deixavam seus alunos à vontade para expressarem suas idéias. Nos corredores eram sempre parados por alunos ou por outros mestres que pediam conselhos para algum tema. Seus conselhos eram sempre ouvidos, pois eram considerados pessoas de confiança e seguras. 
Caminhavam calmos, falavam pouco, mas diziam muito. Suas palavras eram ditas pausadamente como quem pensa sobre cada uma. De gestos contidos, apenas sorriam, nunca gargalhavam.
Ás sextas-feiras saíam com outros professores para uma cerveja, onde sempre havia também um escritor de romances, um jornalista e o capelão da faculdade. A conversa passeava sobre filosofia, cerveja, charutos,
histórias da humanidade. No verão falavam sobre o calor, as chuvas, os desabamentos. No inverno conversavam sobre o frio no Rio de Janeiro ou sobre alguma notícia local.
Adoravam poemas mas não sabiam se comportar diante de uma mulher. Eram tímidos demais nesse assunto, mesmo sendo cavalheiros. Teriam sido ótimos maridos e pais, mas não souberam derrubar essa barreira e o tempo passou. Se acostumaram a educar os filhos das outras pessoas. 
Aos sábados os dois irmãos cuidavam do apartamento, colocavam seus ternos na tinturaria, faziam compras. Á noite, sentavam-se na varanda de frente para o mar, ligavam o rádio onde estivesse tocando uma música, pegavam um livro ou um jornal e ficavam assim, ora olhando o mar, ora olhando o jornal, até um dos dois se levantar e oferecer: "um chá?" e o outro responder: "é sempre bom".
Aos domingos, levantavam-se cedo para irem à missa. Como meninos, rezavam e comungavam. Depois davam uma volta na pracinha, sentavam para "pegar sol". Ficavam felizes, ao modo deles, em apreciar as crianças brincando na areia ou andando de bicicleta com seus pais. Almoçavam sempre no mesmo restaurante onde já eram conhecidos. "Lá vem os ingleses", dizia o garçom e sempre arrumava a melhor mesa para os dois. Eram amigos há anos. As vezes os irmãos lhes trazia de presente uma caixa de chá inglês ou uma caixa de charutos. Os irmãos não fumavam mas gostavam de ver o brilho nos olhos do amigo garçom ao abrir o pacote. No restaurante, após o almoço, os dois prolongavam o cafezinho por horas, vendo o mundo passar pela calçada.
Depois iam pra casa, ligavam o rádio, pegavam o jornal de domingo, sentavam-se na varanda.
E a vida daqueles irmãos ingleses seguia assim, lentamente, no tumulto da vida carioca, até o próximo chá.

De Daminha à Noiva


Ela foi a daminha mais linda que uma noiva pode querer! E a noiva fui eu! que sorte a minha!
Ainda lembro a surpresa dela ao saber que podia ficar com o pequeno buquet com o qual ela entrou na igreja acompanhado do meu sobrinho André.
Agora, Flavinha foi a noiva e, linda, chegou na cerimônia numa carruagem puxada por cavalos brancos.
Não consegui tirar uma foto pois estava chorando.
Ainda bem que lágrimas de felicidades não se acabam, pois cada prima que se casa eu derramo baldes de lágrimas e a maquiagem vai para o espaço, mas eu nem me importo. Pura emoção!
É fantástico e ao mesmo tempo assustador acompanhar o crescimento de minhas primas. Vê-las se formar, casar, ter filhos, viver sozinhas, enfim seguirem os próprios rumos é saber que nossa família caminha para o futuro.
Cresci junto com minhas primas, descobrimos a vida, os amores e desamores, contamos piadas, segredos e histórias de nossas próprias vidas, choramos, rimos muito, incentivamos uma as outras.
Sou prima e madrinha de algumas delas, o que me causa orgulho de tê-las como filhas, por que madrinha é uma mãe substituta.
Flavinha é uma delas. É minha prima/afilhada. Ela e as duas irmães fazem um trio admirável. Estudiosas, bonitas, inteligentes e engraçadas. Quando nos encontramos tudo é motivo para risadas.
Flavinha mais uma vez me mostrou que as pessoas estão sim se casando! Que as moças, mesmo as que já são formadas, que já vivem de suas profissões e levam a vida de mulher moderna, ainda tem o sonho de casar vestidas de branco, com véu, grinalda e carruagem como princesas de contos de fadas.
Mesmo eu sabendo que a vida não é um "mar de rosas" como pintam, nesse momento, eu desejo que todas as minhas lindas primas tenham o seu "felizes para sempre"

quarta-feira, maio 11, 2011

Aviso...

terça-feira, maio 10, 2011

Marcas da Paixão

E o que dizer sobre as marcas da paixão no rosto da mulher após uma noite de amor?
Algumas  marcas ficam até a noite seguinte, fazendo com que o rosto, o pescoço e o colo continuem rubros de lembranças.
Muito estanha fica a mulher bem amada.
Ficamos leve, flutuamos, não sentimos a dureza do chão. 
Nossos gestos ficam como os de bailarina e o riso sai sem comando.
Suspiros imensos vem de dentro como se quiséssemos sugar todo o ar. 
Um brilho diferente sai do olhar. 
Olhamos sem ver.
Ficamos em outra dimensão.  
Se falamos, cantamos. 
Se dormimos, sonhamos. 
No banho, sentimos a água como carícia. 
Somos gata passeando pela casa. 
Somos outra até o próximo encontro.

segunda-feira, maio 09, 2011

Tema Musical - Sapato Velho



 Você lembra, lembra!
Daquele tempo
Eu tinha estrelas nos olhos
Um jeito de herói
Era mais forte e veloz
Que qualquer mocinho
De cowboy...

Você lembra, lembra!
Eu costumava andar
Bem mais de mil léguas
Prá poder buscar
Flores-de-maio azuis
E os seus cabelos enfeitar...

Água da fonte
Cansei de beber
Prá não envelhecer
Como quisesse
Roubar da manhã
Um lindo pôr-de-sol

Hoje não colho mais
As flores-de-maio
Nem sou mais veloz
Como os heróis...

É! Talvez eu seja
Simplesmente
Como um sapato velho
Mas ainda sirvo
Se você quiser
Basta você me calçar
Que eu aqueço o frio
Dos seus pés...


Sapato Velho
Roupa Nova
Composição : Mu - Claudio Nucci - Paulinho Tapajós

Jóias de rua

No mínimo curioso o o projeto "Urban Jewelry" da designer belga Liesbet Bussche pelas ruas de Tielrode na Bélgica.  A paisagem urbana que passa despercebida foi transformada com jóias gigantes.

Tudo vira jóia ou algum detalhe que faz parte do universo dela. Bolas de concreto transformam-se em brincos, correntes ganham fechos e pingentes e a areia vira um colar de bolas.

sexta-feira, maio 06, 2011

Uma ponte invisível

Distância... o que é distância quando se ama?// O amor sempre vem quando se chama...// Não está o físico ao lado, na cama...// Mas o espírito vem, sente-se dele, a flama...// A ausência não é nada na força de um amor,//temos da presença a vida, o calor...// Sentimos sempre o carinho de um beijo, seja como for...// temos que saber viver o que temos, à alma dar valor.// É só saber sentir a presença do ausente...// É algo que não temos, mas se pressente...// Fechando os olhos, sentimos o amor perto de gente...// Basta de verdade amar, para ter a presença do ausente...//Responda agora... o que é a distância para quem ama? (AMOR DISTANTE - Marcial Salaverry)

Se a distância me assombra corro ao jardim ao entardecer e leio nas nuvens os seus versos, mas se mesmo assim eu não reconhecer suas palavras, procuro e encontro, escrito nas teias em meio as flores de maio, o seu poema que me diz o que quero ler... e me sinto bem... a voz não é necessária por que sei o que seu coração sente.

quarta-feira, maio 04, 2011

Milagres de Natal

Eles se conheceram na esquina da Av. Atlântica com Francisco Otaviano.
Estavam parados, cada um em uma esquina, sozinhos, após o guarda dispersar os curiosos após o acidente. A vítima já havia sido levada pela ambulância, mas os dois continuavam ali parados olhando o asfalto sujo de sangue. Do lado de lá ela disse que ninguém deveria se machucar na noite de Natal. Do lado de cá ele concordou. O rapaz a viu fitando o chão, atravessou a rua e foi até ela. "A noite de Natal é uma noite mágica e só coisas boas deveriam acontecer", ela disse. "O que mais me espanta nas criaturas é essa
facilidade de virar a página, de se agarrar a vida e seguir em frente", ele respondeu. Ela achou estranha a frase, mas não tinha como discordar. Gentilmente ele a tirou do lugar onde estava e começaram a caminhar pelo calçadão. A conversa surgiu facilmente. Ele se chamava Gabriel e ela, Serena. Ele estava admirado pois tudo o que ela dizia fazia sentido apesar de ser tão jovem. Falaram sobre o mar, sobre o tempo, sobre as pessoas. Ela lhe confessou que passear sozinha naquela noite era um presente que havia recebido. Ele sorriu e disse que também estava na mesma situação. Perto de um quiosque Gabriel quis saber se ela queria alguma coisa para beber: "Água!" ela disse sorrindo. Gabriel nunca tinha visto alguém beber um copo de água como realmente um líquido precioso, principalmente quando ela disse ao primeiro gole: "É doce!". Ele também bebeu sua água e repetiu: "É doce e fresca" E os dois riram dos próprios comentários. A moça perguntou se poderiam continuar o passeio pela areia. "Vamos tirar os sapatos" Serena disse isso já com os sapatos nas mãos e sorrindo para Gabriel correu em direção à praia. Seu riso invadia a noite como os cantos dos pássaros. "Sinta a areia nos seus pés, eu consigo sentir cada grão. Mesmo com esse calor, eles são frescos". Serena falava e enfiava os dedos dos pés na areia úmida. Uma gaivota passou voando perto deles e pousou mais adiante. Serena com admiração infantil correu até ela, que voou rápido para o céu. Gabriel sentou-se para admirá-la. A moça corria e seu cabelo ruivo e cacheado voava como as gaivotas. Serena veio até ele e o puxou pelo braço. "Venha! Vamos correr", ela pediu. E os dois correram pela areia como crianças. "Eu vou guardar essa noite para sempre" ela disse e completou: "Eu sempre quis correr pela praia". Gabriel olhando-a nos olhos respondeu: "Eu também" Os sinos da igreja chamavam os fieis para a Missa do Galo. Os dois olharam para o templo, sabendo que era a hora de cada um seguir seu caminho, mas antes decidiram ser amigos para sempre. E às vezes o pra sempre é infinito!
Despediram-se em frente a igreja, desejando um ao outro tudo o que o milagre do Natal pudesse oferecer. Olharam-se emocionados sabendo que os dois eram irmãos nesse universo.
Gabriel ficou parado alguns instantes vendo Serena na calçada. Resolveu entrar e não olhar para trás. Queria ter essa imagem na lembrança. Ele  estava feliz por descobrir que ainda havia esperanças para a humanidade. Que existiam pessoas generosas, solidárias, ingênuas de coração. Ele entrou no templo sem olhar para trás.
Serena viu-o entrando e esperou mais um segundo. Depois, sentindo suas pernas formigarem, ela correu para areia. Queria sentir aquela sensação de novo, mas estava feliz por ir de encontro a seus amigos. Ela teria muito o que contar. Principalmente contar que a humanidade era boa, gentil, amiga. E, sem poder perder tempo, ela mergulhou no mar, enquanto a transformação acontecia.
Gabriel entrou na igreja no mesmo instante em que o órgão tocava os primeiros acordes dando inicio a missa do Galo, ele agradeceu ao Pai pelo maravilhoso presente que havia recebido. Depois tornou-se invisível aos olhos humanos! Suas imensas asas de Anjo-da-Guarda se abriram e ele voou para a abóbada da igreja. De lá ele podia, encantado, velar pelas pessoas que rezavam. Se Gabriel, antes de entrar, tivesse  resolvido se virar por um instante, para dar um último olhar para Serena, ele a teria visto correr para água e entrar no mar. Ele teria visto seu grande rabo de peixe prateado subir nas ondas, sendo iluminado pela luz da Lua.

terça-feira, maio 03, 2011

Beijo roubado

Obs.: Conto de ficção, categoria conto-erótico

Todos os dias ela entra no ônibus das 06:15hs com direção ao centro da cidade. Já conhece qual a melhor poltrona, onde não há saída do ar condicionado em sua cabeça e a que fica ao lado contrário do sol da manhã. Ajeita a bolsa no colo, se acomoda, fecha os olhos e tenta dormir aproveitando o tempo em que ficará dentro do veículo, É meu sono de beleza! ela diz. Ela tenta e consegue! Dorme tanto durante a viagem de 1:45hs que muitas vezes nem vê quem senta a seu lado ou até passa do ponto onde deveria descer.
Numa dessas manhãs ainda sonolenta sente uma perna encostando na sua e as pontas de dedos esbarrando em seu braço. Primeiro se assusta e pensa em abrir os olhos e pegar o "engraçadinho" no ato. Mas seu instinto é de aventura e resolve deixar que o vizinho se aproveite mais um pouco da situação. E ela sente a perna da calça roçando em suas pernas e os dedos deslizando em seu braço. Um fogo começa a subir por seu corpo e ela teme ser descoberta, mas seu rosto está virado para o lado da janela e ele talvez não perceba que ela está com o rosto em chamas. Ela começa a pensar que não poderá continuar com isso e resolve virar o rosto para o lado do vizinho e sente a respiração dele bem perto do seu rosto. Agora ela não
poderá abrir os olhos pois teria que fazer um escândalo ou tomar alguma posição. Decide por fingir que ainda está dormindo, mas seu corpo está totalmente acordado. Ele coloca a perna no meio da perna dela e ela sabe que o rosto dele está a centímetros do rosto dela. Na confusão daquele momento ela o houve dizer: "Linda!", no espanto ela entreabre os lábios e ele a beija. O beijo é longo, quente e sensual. Ela retribui por que seu corpo quer aquele desconhecido. Por um longo tempo ficam aos beijos, depois ele se separa dela e ela não o sente mais perto. Fica ainda assim por alguns momentos como a espera.
As pessoas começam a se levantar para sair do ônibus e ela abre os olhos e não há mais ninguém sentado na poltrona ao lado da dela. Como quem se certifica ela passa a mão no acento e sente ainda a quentura do corpo desconhecido.
Já se passaram vários meses e nunca mais a cena se repetiu. Até hoje ela tem dúvidas se aquilo realmente aconteceu ou se foi um sonho. Na dúvida, procura em cada passageiro aquela boca!


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