Brincando com Palavras

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

terça-feira, junho 30, 2009

Catarse

Houve uma época na minha pre-adolescencia em que vivi momentos de imenso terror, só comparado à filmes de suspense.
Durante anos vivi com essa história na minha cabeça e, mesmo depois de adulta, eu não conseguia contar para quem quer que fosse.
Há coisas na nossa infancia que nos assustam tanto que simplesmente colocá-las para fora nos parece impossível. O terror retorna na mesma medida da época em que acontecia.
Eu morava no subúrbio com meus pais, irmão, tios e tias. Uma casa cheia de gente. Aos poucos os rapazes , num total de seis, foram se casando e a casa foi se tornando feminina, com minha mãe, eu e minhas tres tias. Minhas tias eram adolescentes e meu irmão, um menino.
nossa casa suburbana era voltada para a rua, com as janelas dos quartos separando a varanda que ficava no centro.
No lado direito da varanda ficava o quarto de meus pais, no lado esquerdo a janela do quarto das meninas.
Nossa família já morava há anos no bairro desde o tempo de minha bisa, então nos sentiamos seguros e confiantes na nossa rua.
Com esse pensamento, muitas noites de verão dormíamos com as janelas abertas voltadas para o quintal e para a rua.
Mas o tempo passa e logo o perigo veio morar ao lado.
Com os afazeres de uma família grande, minha mãe nunca desconfiou o que estava acontecendo.
(Mães, por favor, sempre fiquem atentas!)
Em criança fui uma menina quieta e observadora e logo, aquele estranho morador me chamou a atenção e, é lógico que nossa casa cheia de mocinhas também chamou a atenção dele.
Eu costumava passar roupa no quarto dos fundos onde antes dormiam os rapazes, meus tios, e que agora pertencia só a meu irmão. A janela desse quarto dava para o quintal da vizinha onde havia um caramanchão coberto com o pé de maracujá e com bancos para se sentar. Uma noite percebi no escuro a ponta acesa do cigarro brilhando como um vaga-lume. Em minha inocencia firmei a vista para ver o que era e me assustei quando o vizinho chegou o corpo pra frente para que eu pudesse vê-lo. Depois recostou-se novamente e eu só podia ver pelo canto do olho a luz do cigarro subindo e descendo e a ponta do sapato dele balançando na perna cruzada.
A partir daquela noite quando eu ia passar roupa eu sempre fechava a janela, mas minha mãe sempre reclamava quando via a janela fechada. E ela abria a janela!
Meu medo se instalou em meu coração no dia em que reconheci o perigo que estávamos passando por dormir com a janela do nosso quarto aberta. Então, uma noite, após minha mãe passar por nosso quarto para desejar boa noite, e minhas tias já estarem instaladas cada uma em sua cama beliche, eu, me levantei e fechei a janela!
Agora eu me sentia segura e peguei uma revista para ler. De repente escuto os passos no quintal se dirigindo para nossa janela. Podia ser um animal qualquer, mas depois ouvi alguém levantando o grande banco que ficava encostado no muro e que era utilizado por minha mãe para dar aulas. Alguém estava colocando o banco perto da parede. Minha respiração ficou acelerada a ponto de eu pensar que fosse morrer. Eu não conseguia virar a página da revista, nem fechá-la. Por tras da revista eu sabia que alguém estava nos observando pela parte de vidro da janela. Fiquei nessa posição por alguns minutos, mas eu não podia ficar assim a noite toda, então resolvi me levantar e sem olhar para a janela, apaguei a luz, me deitei e me virei para a parede.
De manhã achei que tudo havia sido um pesadelo, mas ao sair para escola vi o grande banco encostado em nossa parede!
A partir daí as noites foram um tormento!
Antes de me deitar, ia ao quintal verificar se o banco estava encostado no muro, longe da janela. Depois que todos dormiam eu ia a cozinha verificar se a porta estava fechada, e como a tranca não estava funcionando decidi sempre colocar o butijão de gaz encostado na porta com as panelas por cima.
Difícil foi convencer minha mãe de que meu irmão ainda era pequeno para dormir sozinho no outro quarto. Até que um dia ela concordou e ele veio para o quarto das meninas. E lá fui eu fechar a janela e depois a porta do quarto pelo lado de dentro da sala!
Eu parecia um fantasma andando pela casa verificando se tudo estava realmente fechado. Depois ia deitar com um livro na mão sabendo que ele viria nos espionar.
Uma noite, já não aguentando mais tudo aquilo, achei que tinha que enfrentar o meu medo. Logo abaixo da janela ficava uma comoda de gavetas. Eu me levantei, fui até a comoda, abri uma das gavetas e levantei o rosto para a parte de vidro da janela. E ele estava lá me olhando! Nós nos olhamos e eu pensei que meu coração fosse parar naquele momento. Ele nem se assusstou e eu voltei para a cama.
No dia seguinte eu estava com crise de bronquite. Não fui à aula, nem saí de dentro de casa.
Nessa noite fui colocada para dormir na cama de meus pais e, de repente de madrugada, acordamos com uma das minhas tias gritando!!
Alguém estava tentando arrancar as dobradiças das janelas.
Meus pais tentaram acender as luzes e elas estavam desligadas, alguém havia tirado os fuzíveis!
Uma de minhas tias, em cima da comoda, gritava que o invasor ainda estava do lado de fora serrando o parafuso. Num susto ela gritou que meu pai apanhasse o revólver (que não possuíamos!) para assustar o assaltante! Ela gritou tanto que o assaltante fugiu!
Foi um tumulto em casa e eu no quarto de meus pais tremia por que eu tinha certeza absoluta de quem era.
Nos dias seguintes ainda fiquei em casa doente e quando finalmente melhorei e saí de casa, descobri que o vizinho havia se mudado.
Durante anos quando se conta essa história do assalto, sempre se fala que "até hoje ninguém descobriu quem foi"
Isso ficou guardado em meu coração por tanto tempo e sempre que eu ameaçava contar o terror me voltava e era como se eu estivesse novamente perto da comoda olhando para a janela. Chegava a suar gelado. Tentei por diversas vezes, mas não consegui.
Até que um dia, há uns cinco anos atras, eu estava com minha família num almoço e a conversa do assalto veio a tona e eu finalmente consegui contar o que acabei de escrever. Minha mãe quiz saber por que não falei com ela o que estava ocorrendo na época? por que guardei isso só pra mim? por que corri esse perigo sem pedir ajuda?

Não soube responder.
Talvez por que crianças sejam assim: assustadas, curiosas, medrosas, mas com uma imensa intuição de proteção à família.

Ufa!

domingo, junho 28, 2009

Livre

me dizia livre
independente
solta na vida

mas usava soutien com aro
grampo e elástico no cabelo
cinta no corpo
sapato apertado e com salto
espartilho,
anágua e combinação
meia-calça e cinta-liga
forro no vestido,
mil coisas na bolsa

um dia queimei tudo isso
agora sim sou livre
com meu cabelo e saia
voando ao vento
e os pés descalços
sentindo a grama molhada

Não fuja

Não fuja
nem se desvie do meu caminho
aceite seus desejos.

Venha caminhar pelos verdes dos meus olhos
saborear o doce de minha boca
mergulhar no ruivo do meu cabelo

Não fuja
seu destino e a minha pele
roçando a sua

Venha se embriagar no perfume do meu pescoço
experimentar a quentura do meu peito
e o a força do meu abraço

Não fuja mais
não dê nem mais um passo
na direção contrária a meu corpo
que treme com sua presença.

Venha saciar a minha sede,
matar a minha fome,
libertar minhas vontades

Não fuja!
Venha que lhe espero!

sexta-feira, junho 26, 2009

Neverland está em silencio...

seu pequeno Peter Pan voou pra longe !



http://www.youtube.com/watch?v=46rGlj8--Xk&feature=related

quinta-feira, junho 25, 2009

King Kong - O Mistério

Sempre fui fã dos filmes "King Kong"
Assisti as tres versões: 1933, 1976 e 2005.

Em cada uma era possível acompanhar a evolução do cinema, mas também o envelhecimento do King.
No primeiro filme ele ainda se move como criança, em movimentos quase infantis. No segundo é o adolescente em toda a sua sensualidade. No último vemos um senhor com seu olhar acariciante.

Mas o que mais me intriga na trama (mais evidente no filme de 2005) é quem construiu a fortaleza da Ilha da Caveira?
Ainda no mar vemos enormes esculturas de caveiras moldadas nos recifes que bloqueiam as praias, dificultando a aproximação dos navios, como um aviso.
Toda a ilha é cercada por muros, grandes estradas, portões para evitar que Kong se aproxime dos nativos e escadarias. Mas quem fez esta escadaria? Quem construiu tudo isso? Possivelmente não os nativos que vivem nela.

E se em algum período da hitória existiu ali uma civilização capaz de levantar grandes construções, por que ela simplesmente não foi embora, deixando a ilha para seu King e os outros animais pré-históricos?
Muitos outros mistérios envolvem a Ilha do Grande King Kong !

quarta-feira, junho 24, 2009

Tema Musical: Maior Abandonado

Eu tô perdido
Sem pai nem mãe
Bem na porta da tua casa
Eu tô pedindo
A tua mão
E um pouquinho do braço

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam

Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam

Eu tô pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho
De proteção
Ao maior abandonado

Teu corpo com amor ou não
Raspas e restos me interessam
Me ame como a um irmão

Mentiras sinceras me interessam
Me interessam

Migalhas dormidas do teu pão
Raspas e restos
Me interessam

Pequenas poções de ilusão
Mentiras sinceras me interessam
Me interessam, me interessam

Estou pedindo
A tua mão
Me leve para qualquer lado
Só um pouquinho
De proteção
Ao maior abandonado
Cazuza

terça-feira, junho 23, 2009

Esperar

Esperar,
passamos a vida a esperar.

Esperar pra nascer,
o dente crescer,
o onibus parar
o trem atrasar,
a sopa esfriar,
a chuva passar,
o filme começar.

Esperar o cabelo secar,
o fruto amadurecer,
o beijo acontecer,
o chocolate aquecer,
não se perder,
a lua brilhar.

Esperar Papai Noel chegar,
o amor surgir,
a flor se abrir,
a neve cair,
não se ferir,
a chuva diminuir,
a carne assar.

Esperar a lágrima rolar,
o sol se por,
pegar uma cor,
um grande favor,
não sentir dor,
a fila andar.

Esperar o tempo passar,
o filho nascer,
o amado sorrir,
uma música compor,
ovo da Páscoa receber,

a morte chegar.

sexta-feira, junho 19, 2009

00:31


terça-feira, junho 16, 2009

Bananal - Comendador Valim

O que eu ouvi em Bananal...

O Comendador Manoel de Aguiar Valim, proprietário das 10 fazendas que atualmente compreendem as terras de Bananal. Foi um homem de tamanha riqueza que fez desse município, hoje tão decadente do ponto de vista econômico, o mais rico da província de São Paulo, chegando ele a deter 1% do PIB brasileiro.
Traficante de escravos chegou a possuir 20mil negros e por esse motivo não conseguiu receber o título de Barão. Ao morrer sua esposa vendeu tudo num unico dia!
Alem de ser grande traficante de escravos, era um homem "religioso". Diariamente ia a capela. Depois, mandava reunir os escravos que seriam chicoteados no tronco fincado atras do oratorio. Uma parede separava o canto da missa do canto do açoite. Enquanto os negros gritavam, soava o sino anunciando a hora da Ave-Maria. Apesar dos gemidos o patrão estava com sono e queria dormir.
Em outra ocasião, ele achou um desaforo quando um escravo levantou os olhos para sua mulher. Ordenou que o insolente fosse espancado até cair de dor. Depois, aproveitando que parte da casa-grande ainda estava em construção, mandou emparedá-lo vivo. Os gemidos ouvidos nos dias posteriores serviram de alerta aos demais: escravo só podia olhar para o chão.
Suas senzalas, abaixo da casa-grande, mediam menos de 1,50m de altura. Isso obrigava os negros a andarem curvados, submissos, olhos cravados no chão.
Em cada fazenda há uma história de soberba, ostentação e maldade.
Ao visitar a Fazenda Coqueiros não consegui entrar na senzala. O ambiente continua pesado.
Ou seria meu coração pesado de vergonha pela raça humana descer tão baixo?

domingo, junho 14, 2009

Eu fui... Bananal/SP

neste feriadão visitei Bananal em São Paulo. Uma das cidades chamadas por Monteiro Lobato de "cidades mortas". As outras são Areias, Silveiras, Formoso e São José do Barreiro. Antes os barões do café dominavem essas regiões. A decadencia da região, com suas histórias de pompa e riqueza, cujos testemunhos são os belos sobrados e os casarões de suas fazendas, veio com a libertação dos escravos, a exaustão da terra, e a abertura da Via Dutra, rodovia ligando São Paulo ao Rio de Janeiro, que praticamente desativou a estrada dos tropeiros.

Hoje, Bananal procura se reerguer atraindo turistas, não só para conhecer sua História, como também para desfrutar das belezas naturais da serra da Bocaina, onde fica a maior reserva brasileira de mata Atlântica.

O que vi em Bananal:

Estação da Estrada de Ferro - Construída com placas almofadadas trazidas da Bégica foi inaugurada em 1889.É um predio de excepcional interesse como construção metálica, sendo o única no gênero na América Latina. Hoje abriga a Biblioteca Municipal e atelier de artesãos.


Pharmácia, com ph, Popular - A mais antiga farmácia em funcionamento no Brasil, fundada em 1830 por um boticário francês, ainda se encontra de portas abertas em Bananal.O atual proprietário, Plínio Graça, tem orgulho em contar a história do negócio. Há armários com frascos de medicamentos centenários...

Solar Manuel de Aguiar Vallin - Prédio belíssimo do Séc. XIX, está sendo restaurado pela população. Aberta a visitação e abriga uma cooperativa de artesãos.

Catedral do Senhor Bom Jesus do Livramento- Construída em 1811, em estilo Colonial, possui no Santíssimo os Doze Apóstolos em madeira. Sua arquitetura é caracterizada pela simplicidade de planta fechada.

Antigos Casarões - Resquícios típicos da chamada "Arquitetura do Café", que se caracteriza por influências do estilo neoclássico.

Praça da Matriz - é o coração de Bananal, com direito a coreto e a um chafariz de 1880.

Artesanato em família - Artesanato tradicional com fios de barbante e tecidos.

Fazenda Independência - Teve origem em 1822. É uma oportunidade de vivenciar de perto parte da história do Brasil, seja nos móveis e objetos espalhados pela casa.

Fazenda Coqueiros - Possui uma senzala autêntica e o único banheiro da época colonial de toda a região.Pude lavar as mãos como os antigos faziam, com água refrescante exalando lavanda ou pétalas de rosas.


Fazenda Resgate
O Ciclo do café constituiu um período áureo da história econômica e social do Brasil. A Fazenda construída por volta de 1818 era o seu núcleo, o centro nervoso, a partir do qual toda a vida produtiva se desenvolveu.. A Fazenda Resgate cumpriu, desde o início do século XIX, o seu papel de protagonista destes tempos gloriosos da História do Brasil. Já naquela época, a Resgate não era uma fazenda como as outras, possuindo história muito peculiar:Comendador Valim, avalista dos títulos do Império, decidiu fundar a Resgate à imagem do seu poder e vaidade. Recorrendo à artesãos europeus muito especializados, conferiu à fazenda um refinamento único, quando comparado com a solidez e o acabamento tosco de algumas fazendas brasileiras da época. Este excepcional requinte e luxo só podiam ser encontrados nos palácios da capital do Império. Com o tempo e o descuido, a Fazenda Resgate foi degradando-se, tornou-se necessário fazer alguma coisa. O trabalho de restauro, começado pelo seu antigo proprietário, o antiquário Cramer Machado, consistiu numa minuciosa pesquisa, permitindo recuperar as ricas formas arquitetônicas e os interiores luxuosos. Nada foi deixado ao acaso para devolver à Resgate o seu perfil único e esplendoroso. A restauração teve continuidade com seu atual proprietário. Visitando a Fazenda Resgate, mergulhamos no passado. É o reencontro com o Brasil oitocentista em todo o seu esplendor. E é toda a história da nação brasileira que se desenrola perante os nossos olhos, com a sua grandeza e dignidade, o seu caráter único. O modo de viver, a atividade econômica, as relações sociais, o divertimento e a cultura no Brasil oitocentistas estão condensados nesta jóia rara do patrimônio brasileiro, a Fazenda Resgate

Chácara Santa Inez - Produção da Cachaça Minuca, doces e licores .








Fazenda Boa Vista - Fazenda colonial com exuberante casarão sede. Serve de cenário para filmagens de novelas, mini séries, entre eles: Novelas Sinhá Moça, Cabocla, Dona Beija e Casarão (Rede Globo)

terça-feira, junho 09, 2009

Ter ou não Ter Namorado?

Quem não tem namorado é alguém que tirou férias não remuneradas de si mesmo.
Namorado é a mais difícil das conquistas.
Difícil porque namorado de verdade é muito raro.
Necessita de adivinhação, de pele, saliva, lágrima, nuvem, quindim, brisa ou filosofia.
Paquera, gabiru, flerte, caso, transa, envolvimento, até paixão, é fácil.
Mas namorado, mesmo, é muito difícil.
Namorado não precisa ser o mais bonito, mas ser aquele a quem se quer proteger e quando se chega ao lado dele a gente treme, sua frio e quase desmaia pedindo proteção.
A proteção não precisa ser parruda, decidida; ou bandoleira basta um olhar de compreensão ou mesmo de aflição.
Quem não tem namorado é quem não tem amor é quem não sabe o gosto de namorar.
Há quem não sabe o gosto de namorar.
Se você tem três pretendentes, dois paqueras, um envolvimento e dois amantes; mesmo assim pode não ter nenhum namorado.
Não tem namorado quem não sabe o gosto de chuva, cinema sessão das duas, medo do pai, sanduíche de padaria ou drible no trabalho.
Não tem namorado quem transa sem carinho, quem se acaricia sem vontade de virar sorvete ou lagartixa e quem ama sem alegria.
Não tem namorado quem faz pacto de amor apenas com a infelicidade.
Namorar é fazer pactos com a felicidade ainda que rápida, escondida, fugidia ou impossível de durar.
Não tem namorado quem não sabe o valor de mãos dadas; de carinho escondido na hora em que passa o filme; de flor catada no muro e entregue de repente; de poesia de Fernando Pessoa, Vinícius de Moraes ou Chico Buarque lida bem devagar; de gargalhada quando fala junto ou descobre meia rasgada; de ânsia enorme de viajar junto para a Escócia ou mesmo de metrô, bonde, nuvem, cavalo alado, tapete mágico ou foguete interplanetário.
Não tem namorado quem não gosta de dormir agarrado, de fazer cesta abraçado, fazer compra junto.
Não tem namorado quem não gosta de falar do próprio amor, nem de ficar horas e horas olhando o mistério do outro dentro dos olhos dele, abobalhados de alegria pela lucidez do amor.
Não tem namorado quem não redescobre a criança própria e a do amado e sai com ela para parques, fliperamas, beira - d'água, show do Milton Nascimento, bosques enluarados, ruas de sonhos ou musical da Metro.
Não tem namorado quem não tem música secreta com ele, quem não dedica livros, quem não recorta artigos; quem gosta sem curtir; quem curte sem aprofundar.
Não tem namorado quem nunca sentiu o gosto de ser lembrado de repente no fim de semana, na madrugada, ou meio-dia do dia de sol em plena praia cheia de rivais.
Não tem namorado quem ama sem se dedicar; quem namora sem brincar; quem vive cheio de obrigações; quem faz sexo sem esperar o outro ir junto com ele.
Não tem namorado quem confunde solidão com ficar sozinho e em paz.
Não tem namorado quem não fala sozinho, não ri de si mesmo e quem tem medo de ser afetivo. Se você não tem namorado porque não descobriu que o amor é alegre e você vive pesando duzentos quilos de grilos e medos, ponha a saia mais leve, aquela de chita e passeie de mãos dadas com o ar.
Enfeite-se com margaridas e ternuras e escove a alma com leves fricções de esperança.
De alma escovada e coração estouvado, saia do quintal de si mesmo e descubra o próprio jardim. Acorde com gosto de caqui e sorria lírios para quem passe debaixo de sua janela.
Ponha intenções de quermesse em seus olhos e beba licor de contos de fada.
Ande como se o chão estivesse repleto de sons de flauta e do céu descesse uma névoa de borboletas, cada qual trazendo uma pérola falante a dizer frases sutis e palavras de galanteria.
Se você não tem namorado é porque ainda não enlouqueceu aquele pouquinho necessário a fazer a vida parar e de repente parecer que faz sentido. ENLOU-CRESÇA.
Artur da Távola

segunda-feira, junho 01, 2009

Nosso Corpo

um dia descobrimos
que aquele seio que nos fornece alimento
não faz partedo nosso corpo

Depois achamos o nosso pé,
nos apaixonamos por ele
e adoramos senti-lo em nossa boca.

A seguir vem as mãos,
a barriga,
a orelha
e vamos de pouquinho em pouquinho
nos descobrindo.


Até que percebemos que
da pele pra fora existe um mundo a se descobrir
e por um bom tempo nos esquecemos que
da pele pra dentro
há um outro mundo realmente só nosso
que desconhecemos.

E por ter tanto a se descobrir da pele pra fora
que começamos a fazer as coisas sem pensar.
Andamos sem pensar em nossos pés
Corremos sem dar atenção às nossas pernas.
Abraçamos, carregamos, empurramos
sem olhar os próprios braços.

Comemos e bebemos.
E onde fica o esôfago mesmo?íleo é um osso?
Isso não nos interessa quando nos sentimos imortais
Até o dia em que uma dor apareça !
Só na dor e na doença passamos a conhecer nosso corpo.


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