Brincando com Palavras

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

quinta-feira, março 29, 2012

Sozinha? Eu?

A princípio eu fui por impulso. Após 10 dias em casa de férias, resolvi que era hora de sair em viagem. E, sem pensar muito fui à agência e comprei meu pacote para o Sul, mesmo sabendo que talvez eu me sentisse deslocada em cidades anunciadas como românticas e certas para lua de mel.
E lá fui eu pra Gramado!
A cidade, linda, limpa. carinhosa, caprichosa como uma vovozinha sentada em sua cadeira de balanço!
Apaixonante e encantadora!
Mas depois falo mais dela!
Me senti nas páginas de um livro onde há desenhos de flores e coelhos por todos os lados!
E era só me sentar em qualquer banco e apreciar os detalhes tão delicados por onde meus olhos pousassem.
Me senti bem!
O mais interessante foi descobrir a surpresa em cada rosto feminino ao saber que eu estava viajando sozinha.
- Como assim, viajando sozinha?  Mas você teve coragem? Eu nunca viajaria sozinha, aliás eu nunca nem moraria sozinha? E você não se sente triste?
Percebi que não estava triste, nem deslocada, nem abandonada. Principalmente ao ver que essas mesmas mulheres que me questionavam e que estavam acompanhadas, se eu lhes estendesse a mão, sairiam correndo comigo para um passeio "sozinhas".
Me senti aventureira !  Corajosa!
Vi que, por estar sozinha, eu poderia fazer (ou não fazer) o que eu bem entendesse. Ir ou não ir aos lugares. Falar ou não falar com quem eu quisesse. Ganhar minutos conversando com uma mulher da cidade sobre os fios elétricos, que na cidade não são aparentes, e sim, por baixo da terra. Saber que não é necessário agradecer a todos os carros que param nos cruzamentos para que eu pudesse atravessar ("é obrigação deles parar"), assistir a um casamento na igreja principal e parabenizar a noiva que nem sei o nome, ir ao cinema à noite só pra ver como ele é por dentro e depois poder dizer que fui no cinema de Gramado. Experimentei chimarrão, dancei com um italiano dentro do trem Maria Fumaça, desci de trenó, numa montanha russa dentro da serra a 21kms/h, peguei um ônibus comum e visitei outra cidade (Canela), simplesmente por que queria saber como o pessoal se locomovia entre as cidades.
Conversei com pessoas, fotografei o que quiz, ri pra quem me fez rir, agradeci a quem foi generoso comigo. Perguntei, observei, cantei, aprendi, provei, gritei, rezei, admirei, me maravilhei!
Concluí que eu não estava sozinha, eu estava comigo! E eu gosto da minha companhia!

quarta-feira, março 28, 2012

Millôr e o Tempo

Poeminha sobre o Tempo

O despertador desperta,
acorda com sono e medo;
por que a noite é tão curta
e fica tarde tão cedo?

in "Pif-Paf"

Millôr Fernandes
(1923 - 2012)

domingo, março 25, 2012

Passeando por Gramado e Canela (Rio Grande do Sul)































domingo, março 11, 2012

Casa Brasileira

Havia um tempo de cadeira na calçada//Era um tempo em que havia mais estrelas//Tempo em que as crianças brincavam sob a clarabóia da lua, e o cachorro da casa era um grande personagem//E também o relógio da parede!//Ele não media o tempo simplesmente: Ele meditava o tempo.
(Quintana)


Como descrever a casa brasileira?
Bem... Ela tem uma grande calçada onde durante o dia os meninos jogam bola, enquanto as meninas conversam num canto. À noite os vizinhos colocam suas cadeiras se sentam, conversam e fogem do calor do interior da casa.
Separando o terreno há um muro baixo e um portão que está sempre aberto. Cachorros e gatos passam por ele sem cerimônia.
No quintal há roseiras que as avós cuidam com atenção, goiabeiras que as crianças não deixam seus frutos amadurecerem direito, grama onde as mães colocam as roupas pra "quarar", um alpendre coberto com uma parreira, onde, nas noites de outono pode-se ficar sentado nos grandes bancos de madeira, olhando os cachos de uva pendurados pedindo para serem colhidos.
Também tem um canto para o cachorro, uma parede para a bicicleta, e galinhas ciscando o tempo todo.
Da varanda, de ladrilho azul até o meio da parede, pode-se sentir o cheiro de feijão sendo preparado na cozinha. O barulho da panela de pressão à tarde, avisa que o jantar está no fogo. Bancos esperam pelos moradores que se sentam ali após o jantar. Vasos com espadas de São Jorge enfeitam o local e espantam o mal olhado. Uma samambaia chorona, pendurada no teto, forma uma cortina e deixa sombras no chão.
Os tacos da sala costumam ser encerados às sextas-feiras, para que no final de semana a casa esteja arrumada e limpa. Há uma grande mesa com cadeiras à sua volta. Sobre ela uma toalha bordada em ponto de cruz e uma jarra com flores: sempre-vivas! Uma grande cristaleira exibe os copos, jarras de água, pratos de festa e sopeiras. Coisas de avós e bisavós. Numa das parede um quadro de "Jesus no Jardim das Oliveira", na outra, uma foto de casamento da mãe.
Nessa casa sempre há música. O rádio fica ligado o dia inteiro. A mãe canta enquanto lava a roupa. A filha canta ao varrer a casa. O pai canta embaixo do chuveiro.
Há um quarto para o casal, com móveis comprados antes de se casarem. A mãe cuida deles com carinho passando óleo nas portas e no encosto da cama, para deixá-los brilhantes. O outro quarto serve para os filhos, que dormem em beliches. As paredes vivem cheias de recortes de revistas: fotos de jogadores, cantores e atores colorem o quarto.
Todas as janelas tem cortinas brancas e de crochê, compradas a prestação, numa amiga de uma vizinha, que costuma viajar muito e sempre traz coisas bonitas para vender.
A cozinha (ah! a cozinha!) é o melhor espaço da casa. Além do fogão e de um armário para as panelas (sempre bem areadas, brilhantes), também tem uma grande mesa com inúmeros bancos e cadeiras ao redor. O cheiro de café coando reina nesse aposento, onde as conversas, grandes decisões, deveres escolares, debates, segredos e choros estão sempre acontecendo. Tudo de mais importante numa família acontece na cozinha. Não só os alimentos são preparados ali. Vidas são preparadas também. 
Aos domingos a mesa fica posta desde cedo. Primeiro para o café da manhã, depois para o almoço (macarronada com carne-assada e batatas coradas) que se esparrama até a hora do cafezinho e finalizando com o café da noite, onde, os que saíram para dar uma volta, retornam e contam o que viram no passeio.
A casa brasileira só descansa quando, lá pelas vinte e duas horas, todos estão em suas camas, o pai coloca o cachorro pra fora, passa no quarto dos filhos para desejar boa-noite, acende a luz do São Jorge no corredor, dá corda no relógio (para não perder a hora na manhã seguinte), beija a esposa e desliga o abajur.

sexta-feira, março 02, 2012

As Perigosas no Valqueire

Bela, bela, bela, // Ela anda na rua // como quem passa na passarela // O mundo é dela
Linda, doce, fera // Seu corpo provoca engarrafamento // Mudança de vento // Faz fila de espera//
Demorou, perdeu a vez// Vacilou, casa caiu // A bela é carioca mas é da cor do Brasil //
Demorou, perdeu a vez // Vacilou casa caiu // A bela é carioca mas é da cor do Brasil
(Mulher Carioca - Pedro Luis e a Parede)



Elas já passaram dos cinquenta.
São mães e algumas até já tem neto.
Como mães elas já tiveram seu quinhão de sofrimento, algumas mais do que as outras. Mas tiveram!
Mas são guerreiras e veem de uma geração em que as mulheres aprenderam a conquistar o seu espaço com garra mas também com um grande sorriso no rosto.
São amigas! E cada uma, a seu modo,  sabe curar a ferida da outra, com palavras, atitudes, abraços, olhares. Ou mesmo com o silêncio, sempre tão confortador.
E hoje, 1º de março, como algumas donas de casa (mas não elas), resolveram jogar a tristeza em baixo do tapete e, como aquelas amigas do seriado Sexy ande City, saíram pra rua, para se curtirem.
A decisão foi tomada logo cedo!
Primeiro passaram no salão, depois seguiram para o shopping.
Na mesa, um cardápio japonês. Ao redor "As perigosas no Valqueire". 
Todas falando ao mesmo tempo sem se importarem se os outros frequentadores estavam ouvindo pedaços de conversa. E eram tantos "paus" e "pauzinhos" !!
Se a "Enlouquecida de Brasília" lembrava de quando quase jogou a televisão em cima de um dos filhos, a "Avassaladora do Salão" diagnosticava que o problema da "Incomodada da Pacheco" é engolir sapos demais e por isso ter tantos problemas intestinais: "O dia em que ela aprender a mandar todos "se fu" ela vai ter até prisão de ventre e estará curada"
"A Voadora de Topete", a mais nova do grupo, mas já fazendo terapia, enquanto saboreava seu sushi lembrava como vomitou nos pés do seu ex, tudo o que tinha ainda guardado na garganta e como se sente mais leve hoje em dia.
Entre uma risada e outra, "A Magal de Fusca" se atrapalhava com os pauzinhos na hora de comer a pizza de skin de salmão, que todas aproveitaram para provar só um pouquinho.
As conversas podem ter se cruzado mas os olhos de lince da "Voadora de Topete" contavam rigorosamente quem havia comido mais de uma rodela de banana com chocolate!
Saindo do shopping o que fazer?
Amontoadas, elas se jogaram dentro do carro da "Noivinha da Pavuna" e arrastando também a "Patricinha de Marechal". Como as sete conseguiram ficar dentro do carro é um enigma que nem Einstein consegue decifrar...
E em meio a tantas gargalhadas elas foram parar no studio de Tatoo. Por que não???
Eventos importantes merecem um símbolo, um marco.
E como algumas já tem a sua tatoo preferida, chegou a vez da "Enlouquecida de Brasília", por que a dor de uma agulha não é nada em comparação a outras piores dores que algumas mães sentem.
O momento foi registrado, acompanhado, inspecionado e fotografado para dar Ibope no Facebook. Aos que não acreditaram que ela faria, as provas são inquestionáveis.
Enquanto o traçado era preenchido formando as asas de um anjo no peito repleto de saudades da pequena cabeça loura que antes ali descansava, a "Magal do Fusca" folheava uma revista na sala ao lado, não querendo ver o banho de sangue que o tatuador deveria estar causando. Afinal, um pai de uma menina de quatro anos que sobe em telhados, deveria estar mais para um serial killer do que para um artista, pensava a "do Fusca", lembrando-se do filho com tatuagens, vivendo lá nos Estados Unidos e se recusando aceitar a ideia de ser marcada por uma tatuagem!
Tatuagem feita, abraços dados, lágrimas despontando em frente ao espelho, hora de partir pra outra!
E lá vão elas pelas ruas do Valqueire!
O sol já está se pondo, mas ainda há muito pela frente!
O salão é logo ali e até o final da noite ainda muito pra se falar e rir.
Esse dia foi feito só pra isso, enquanto a tristeza descansa debaixo do tapete.

Como não amar mulheres assim?


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