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Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

quarta-feira, maio 04, 2011

Milagres de Natal

Eles se conheceram na esquina da Av. Atlântica com Francisco Otaviano.
Estavam parados, cada um em uma esquina, sozinhos, após o guarda dispersar os curiosos após o acidente. A vítima já havia sido levada pela ambulância, mas os dois continuavam ali parados olhando o asfalto sujo de sangue. Do lado de lá ela disse que ninguém deveria se machucar na noite de Natal. Do lado de cá ele concordou. O rapaz a viu fitando o chão, atravessou a rua e foi até ela. "A noite de Natal é uma noite mágica e só coisas boas deveriam acontecer", ela disse. "O que mais me espanta nas criaturas é essa
facilidade de virar a página, de se agarrar a vida e seguir em frente", ele respondeu. Ela achou estranha a frase, mas não tinha como discordar. Gentilmente ele a tirou do lugar onde estava e começaram a caminhar pelo calçadão. A conversa surgiu facilmente. Ele se chamava Gabriel e ela, Serena. Ele estava admirado pois tudo o que ela dizia fazia sentido apesar de ser tão jovem. Falaram sobre o mar, sobre o tempo, sobre as pessoas. Ela lhe confessou que passear sozinha naquela noite era um presente que havia recebido. Ele sorriu e disse que também estava na mesma situação. Perto de um quiosque Gabriel quis saber se ela queria alguma coisa para beber: "Água!" ela disse sorrindo. Gabriel nunca tinha visto alguém beber um copo de água como realmente um líquido precioso, principalmente quando ela disse ao primeiro gole: "É doce!". Ele também bebeu sua água e repetiu: "É doce e fresca" E os dois riram dos próprios comentários. A moça perguntou se poderiam continuar o passeio pela areia. "Vamos tirar os sapatos" Serena disse isso já com os sapatos nas mãos e sorrindo para Gabriel correu em direção à praia. Seu riso invadia a noite como os cantos dos pássaros. "Sinta a areia nos seus pés, eu consigo sentir cada grão. Mesmo com esse calor, eles são frescos". Serena falava e enfiava os dedos dos pés na areia úmida. Uma gaivota passou voando perto deles e pousou mais adiante. Serena com admiração infantil correu até ela, que voou rápido para o céu. Gabriel sentou-se para admirá-la. A moça corria e seu cabelo ruivo e cacheado voava como as gaivotas. Serena veio até ele e o puxou pelo braço. "Venha! Vamos correr", ela pediu. E os dois correram pela areia como crianças. "Eu vou guardar essa noite para sempre" ela disse e completou: "Eu sempre quis correr pela praia". Gabriel olhando-a nos olhos respondeu: "Eu também" Os sinos da igreja chamavam os fieis para a Missa do Galo. Os dois olharam para o templo, sabendo que era a hora de cada um seguir seu caminho, mas antes decidiram ser amigos para sempre. E às vezes o pra sempre é infinito!
Despediram-se em frente a igreja, desejando um ao outro tudo o que o milagre do Natal pudesse oferecer. Olharam-se emocionados sabendo que os dois eram irmãos nesse universo.
Gabriel ficou parado alguns instantes vendo Serena na calçada. Resolveu entrar e não olhar para trás. Queria ter essa imagem na lembrança. Ele  estava feliz por descobrir que ainda havia esperanças para a humanidade. Que existiam pessoas generosas, solidárias, ingênuas de coração. Ele entrou no templo sem olhar para trás.
Serena viu-o entrando e esperou mais um segundo. Depois, sentindo suas pernas formigarem, ela correu para areia. Queria sentir aquela sensação de novo, mas estava feliz por ir de encontro a seus amigos. Ela teria muito o que contar. Principalmente contar que a humanidade era boa, gentil, amiga. E, sem poder perder tempo, ela mergulhou no mar, enquanto a transformação acontecia.
Gabriel entrou na igreja no mesmo instante em que o órgão tocava os primeiros acordes dando inicio a missa do Galo, ele agradeceu ao Pai pelo maravilhoso presente que havia recebido. Depois tornou-se invisível aos olhos humanos! Suas imensas asas de Anjo-da-Guarda se abriram e ele voou para a abóbada da igreja. De lá ele podia, encantado, velar pelas pessoas que rezavam. Se Gabriel, antes de entrar, tivesse  resolvido se virar por um instante, para dar um último olhar para Serena, ele a teria visto correr para água e entrar no mar. Ele teria visto seu grande rabo de peixe prateado subir nas ondas, sendo iluminado pela luz da Lua.

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