Brincando com Palavras

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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

quarta-feira, agosto 04, 2010

A Fábula do Passarinho Feio

Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
que não sabia o que era, nem de onde veio
então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
voando, voando com as asas da quimera...

Era uma vez... Assim inicia a música "Lenda do pégaso", de Moraes Moreira e Jorge Mautner.
Difícil imaginar um passarinho feio? Não! Quando se trata de filhotes, pelados e com os olhos fechados, não há como achá-los bonitos.
Em agosto, no mundo das aves é o mês em que eles começam a se reporduzir, antecipando a primavera.
Árvores, telhados de casas ou um pequeno buraco na parede são escolhidos para a construção dos ninhos. Em questão de semanas, milhares de passarinhos feios ganham vida.
E a múcsica fala de um passarinho que não só é feio, mas que também não sabia o que era nem de onde veio.
Imagine um filhote dentro de um ninho, sem penas e com os olhos fechados. Totalmente dependente! O mundo pra ele é um punhado de palha, que o protege, e os pais, que vão e vem trazendo comida e, eles, por instinto esticam o pescoço e abrem o bico. Antes mesmo de abrir os olhos, eles já conhecem a competição.
Com as asas desenvolvidas, ele tem que abandonar o ninho e se lançar na incerteza da vida. A sorte está lançada!
Nós também parecemos passarinhos feios. Quando nascemos, somos dependentes e também não sabemos o que somos e nem de onde viemos. Crescemos bem mais devagar que os passarinhos, mas também deixamos nosso ninho. Ao invez de voar, temos que trabalhar para ganhar a vida.
E a música continua, penso que falando mais dos homens do que das aves:

"Sonhava ser uma gaivota, por que ela é linda e todo mundo nota
E, naquela pretensão, queria ser gavião
E, quando estava feliz, quis ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha, quando quis ser a sagrada cegonha
E, com a vontade esparsa, sonhava ser uma linda garça
E, num instante de desengano, queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti, quando quis ser um colibir
Por isso lhe pisarm o calo e aí então cantou de galo"

Quem nunca desejou ser o que não era? A música continua citando aves que o passarinho feio desejou ser, cada qual com uma qualidade humana. Dá pra perceber que não se trata de uma ave. Só mesmo os humanos para ter tantos desejos...
Talvez, se tivéssemos asas, teríamos uma vida mais simples. Como não temos voamos através dos sonhos. E o pior é que mesmo depois de sair do ninho, desejar e sonhar muito, continuamos sem saber quem somos ou de onde viemos. Mas podemos saber o que não somos! Se ficarmos de pé em frente a um espelho quem vemos? A nós mesmos? engano! No espelho só está uma parte de nós, por sinal, uma parte finita.
E a última parte da música nos surpreende: o passarinho feio que sonhou ser tanta coisa descobre ser ainda maior do que tudo o que havia imaginado.

"Aí então Deus chegou e disse: Pegue as mágoas
pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azul
E o passarinho feio virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso"

Pégaso, na mitologia grega é o cavalo alado, símbolo da imortalidade.
É como se vê, o mundo das aves até em forma de fábula tem muito a nos ensinar.

terça-feira, agosto 03, 2010

Uma vida em Tres Dias...

Quando se assiste o filme “Nunca te vi, sempre te Amei” você até sente saudades de um tempo em que as pessoas usavam as cartas para um diálogo à distância. O filme é baseado no livro 84 Charing Cross Road, que reúne a correspondência trocada, durante vinte anos, entre a escritora Helene Hanff (Anne Bancroft) e Frank Doel (Anthony Hopkins), o gerente da Marks & Co, livraria antiquário que ficava em Londres no endereço que dá título ao livro e ao filme. Tudo começou pelo fato de Helene adorar livros raros, que não se encontram em Nova York. Só que ela não poderia imaginar que uma carta para uma pequena livraria em Londres, que negocia livros de segunda mão, a levaria a iniciar uma correspondência afetuosa com Frank. Neste período uma amizade muito especial surge entre os dois. O título brasileiro nos dá a impressão de que existia um romance entre Helene e Frank. É verdade, eles nunca se viram. É verdade, é uma história de amor (mas não personificado). É verdade, em alguns momentos o filme sugere a existência de um amor platônico, mas é algo MUITO platônico, um amor mais fraternal, de simpatia entre humores e afinidades. Nunca uma paixão arrebatadora, um amor homem-mulher. Se essa paixão existe, ela é transferida para o amor aos livros, já que os dois sabem da impossibilidade do amor real. Os obstáculos são tantos que não se cabe torná-lo real. A distância, a falta de dinheiro para uma viagem, o casamento dele, os compromissos dela, são motivos mais que importantes que o amor platônico se solidifique. Ao final do filme nos sentimos imensamente solitários, não pela ausência do amor consumado, mas pelo interrupção de amor vivido. Aí percebemos a força das palavras ditas e das não ditas, apenas sussurradas nas entrelinhas.
Ao final, desligamos a TV e imaginamos que isso só aconteça em filmes ou livros e continuamos a nossa vida repleta da dura realidades.
Até o dia em que nos encontramos no meio de uma situação parecida!
Nos dias atuais as cartas foram substituídas pelos e-mails trocados por pessoas que, em algumas vezes, nunca vimos o rosto! Fazemos isso diariamente com funcionários da mesma empresa, mas que estão alocados em filiais de outros estados e até em países distantes! Trocamos correspondências durante anos sem se quer imaginar as mãos que estão digitando do outro lado do mundo. Se tornou normal não se olhar no olho ou ver a expressão de agrado ou desagrado sobre o que estamos comunicando.
Um dia recebemos uma mensagem de um amigo, enviada junto para outros tantos amigos. Somos só mais um nome no meio dos outros.
Mas o texto enviado contém uma mensagem que você sabe não ser verdadeira. Na sua boa intenção de esclarecer o equívoco você responde ser uma “lenda urbana” o que o e-mail diz, e envia o site onde poderão comprovar. Minutos depois alguém da lista nos pede que envie o texto completo pois em seu escritório a Internet é bloqueada. Já que resolvemos ajudar, por que não completar o serviço? O texto é enviado e logo a seguir o agradecimento chega. E assim se inicia uma conversa através do e-mail. E eles vão chegando e saindo. No final do primeiro dia muito se foi dito sobre as paixões de cada um, onde o ponto de união é a geografia, a geografia política e histórica. Não é assunto para qualquer um! Só para pessoas que amam a mesma coisa, que pensam da mesma maneira. O dia inteiro a conversa foi interessante.
No segundo dia acordamos com aquela vontade imensa de ligar o computador e verificar se há e-mails daquela pessoa. A pressa de chegar ao escritório traz emoções esquecidas. E as dúvidas povoam os pensamentos: “E se de um dia para o outro a conversa chegou ao fim?” Mas a surpresa é acompanhada do alívio quando se descobre que novos e-mails estão lá. Agora os assuntos são mais pessoais. Um quer saber mais do outro e as palavras se tornam íntimas. No meio do dia, perguntamos em que momento a conversa do dia anterior se transformou na conversa do dia atual? Não sabemos! As palavras tem seus poderes e seus próprios caminhos e destinos! Palavras que nunca seriam ditas frente-a-frente são escritas entre os desconhecidos. Ao final do segundo dia o fogo já queima na tela, nos olhos, no corpo.
Na manhã do terceiro dia não queremos ser abandonados um minuto se quer. Sofremos se não temos respostas para nossas perguntas. Queremos falar, tocar, sentir através dos e-mails. Que poder é esse que nos invade e nos transporta? Somos dominados pela imaginação? Pela sedução do desconhecido? Do gosto pelo mistério que rodeia o enigmático? Por não termos uma face que nos olhe tentando nos decifrar, criticar, esmiuçar, julgar ou pré-julgar? Por termos somente um espectador que nos ouve?
E num determinado momento o vento sopra gelado ou simplesmente mordemos a língua e acordamos desse torpor. E fazemos a pergunta certa que, num segundo, nos faz voltar à realidade. E honestamente confessamos o que somos de verdade! Um e outro se mostra por inteiro! E a cortina cai!
Nesse instante sofremos a dor que a realidade nos causa. Gostaríamos de viver aquela eterna fantasia. Por três dias vivemos personagens encantadores, inteligentes e apaixonantes. E isso foi muito bom! Vivemos uma vida inteira em três dias! Em três dias fomos apaixonados por nossos sonhos, juntos! Platônico? Não, para nós foi real, mas fino e delicado como açúcar de confeiteiro, que se desfaz no ar ao pequeno sopro da brisa! Foi delicado, gentil, amoroso, quente, sensual, mas se foi...
Em nossa vida real temos outros destinos. E precisamos seguir a diante.
Como no filme, foi um amor não personificado, mas um amor vivido!
Agora as personagens estão guardadas dentro das mensagens dos e-mails, no escuro do monitor desligado.
Na memória do computador, até serem apagadas...
Ou não...


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