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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

sábado, maio 14, 2011

Os ingleses

Diziam que a família imigrara para o Brasil na época da guerra. A mãe morreu quando eles tinham onze e nove anos e eles foram criados pelo pai. Os dois irmãos ingleses cresceram no Rio de Janeiro sob a guarda de um pai dedicado mas severo até ele morrer, quando os dois ainda  entravam na adolescência. Terminaram os estudos tutelados por um tio idoso. Viveram assim sem uma presença feminina em casa.
Os dois se formaram em literatura inglesa. Ótimos professores, eram sempre escolhidos para o discurso de formatura de seus alunos. Suas aulas eram sempre interessantes, mesmo no tom sério dos ingleses, eles sabiam conquistar os jovens. Em aula conversavam sobre política, religião, família, amor, amizade. Deixavam seus alunos à vontade para expressarem suas idéias. Nos corredores eram sempre parados por alunos ou por outros mestres que pediam conselhos para algum tema. Seus conselhos eram sempre ouvidos, pois eram considerados pessoas de confiança e seguras. 
Caminhavam calmos, falavam pouco, mas diziam muito. Suas palavras eram ditas pausadamente como quem pensa sobre cada uma. De gestos contidos, apenas sorriam, nunca gargalhavam.
Ás sextas-feiras saíam com outros professores para uma cerveja, onde sempre havia também um escritor de romances, um jornalista e o capelão da faculdade. A conversa passeava sobre filosofia, cerveja, charutos,
histórias da humanidade. No verão falavam sobre o calor, as chuvas, os desabamentos. No inverno conversavam sobre o frio no Rio de Janeiro ou sobre alguma notícia local.
Adoravam poemas mas não sabiam se comportar diante de uma mulher. Eram tímidos demais nesse assunto, mesmo sendo cavalheiros. Teriam sido ótimos maridos e pais, mas não souberam derrubar essa barreira e o tempo passou. Se acostumaram a educar os filhos das outras pessoas. 
Aos sábados os dois irmãos cuidavam do apartamento, colocavam seus ternos na tinturaria, faziam compras. Á noite, sentavam-se na varanda de frente para o mar, ligavam o rádio onde estivesse tocando uma música, pegavam um livro ou um jornal e ficavam assim, ora olhando o mar, ora olhando o jornal, até um dos dois se levantar e oferecer: "um chá?" e o outro responder: "é sempre bom".
Aos domingos, levantavam-se cedo para irem à missa. Como meninos, rezavam e comungavam. Depois davam uma volta na pracinha, sentavam para "pegar sol". Ficavam felizes, ao modo deles, em apreciar as crianças brincando na areia ou andando de bicicleta com seus pais. Almoçavam sempre no mesmo restaurante onde já eram conhecidos. "Lá vem os ingleses", dizia o garçom e sempre arrumava a melhor mesa para os dois. Eram amigos há anos. As vezes os irmãos lhes trazia de presente uma caixa de chá inglês ou uma caixa de charutos. Os irmãos não fumavam mas gostavam de ver o brilho nos olhos do amigo garçom ao abrir o pacote. No restaurante, após o almoço, os dois prolongavam o cafezinho por horas, vendo o mundo passar pela calçada.
Depois iam pra casa, ligavam o rádio, pegavam o jornal de domingo, sentavam-se na varanda.
E a vida daqueles irmãos ingleses seguia assim, lentamente, no tumulto da vida carioca, até o próximo chá.

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