Meu monstro

vi o filme "Instinto Secreto" (Mr. Books) estrelado por Kevin Costner, Demi Moore e William Hurt. O longa é um thriller inteligente em que Mr. Brooks(Kevin Costner) é um homem de sucesso, generoso, ótimo pai e marido, eleito o Homem do Ano. Aparentemente ele é perfeito. Mas existe um segredo. Ele tem um alter-ego homicida conhecido como Marshall (William Hurt), um assassino em série, e ninguém desconfia disso. Atormentado, ele terá de ter autocontrole em uma árdua batalha contra seu alter-ego.

Ao final do filme fiquei pensando se todos nós possuímos esse monstro guardado no mais profundo subterraneo de nossas almas. Se carregamos o nosso Mr. Hyde preso em alguma masmorra de nosso inconsciente ou até mesmo o verde Hulk acorrentado em nossos calabouços.

Todos nós somos tentados, em algumas vezes na vida, a deixá-lo escapar e mostrar sua fúria.

Ou se sem perceber, o alimentamos com pequenas maldades cotidianas. Quando se finge dormir quando uma idosa entra no transporte, quando se mente dizendo que não temos vinte centavos para dar para aquela criança pedinte, quando se empurra alguém na fila, quando se mata, sem nenhum motivo, um inseto no chão ou quando se xinga o motorista do outro carro porque ele o ultrapassou na estrada.

Não se deve dar nomes a esses monstros aprisionados, esses pequenos seres que nos falam baixinho aos ouvidos como em desenhos animados.

Nomeados eles ganham realmente vida, passam a ter personalidades próprias e num desviar de olhos eles conseguem arrebentar os cadeados e se mostram em sua feiura.

Com nomes eles são tratados na 3ª pessoa e não nos pertencem mais, como se não tivéssemos mais responsabilidades sobre seus atos.

A batalha é realmente árdua. Temos que estar atentos a todos os instantes, pois alguns desses monstros, mais espertos, vão se mostrando aos poucos e, nas pequenas maldades, dão-nos, no poder, a misteriosa sensação de prazer. E, vamos nos acostumando com isso. Vamos nos acostumando a pisar no calo alheio, a chutar o cachorro do vizinho, a arrancar as flores do jardim. Tudo com um sorriso simpático no rosto.

Somos pessoas comuns, generosas, pacientes, bondosas, por que conseguimos segurar e esconder o nosso lado negro da Lua, caso contrário, estaríamos na barbárie.

Mas num descuido podemos sentir o gosto de sangue na boca quando a vontade de matar aquele estrupador de meninas, vem em nosso pensamento.

Por um milésimo de segundo o monstro vem a tona no pântano de nossas vidas. E precisamos rápido empurrá-lo para baixo, antes que ele respire fundo.

O importante é estar atento e não permitir que nosso lado negro cresça e apareça.

Por que, não tenha dúvida, ele está lá: dentro de todos nós!

Sintoma de Saudade

Hoje...

Eu prefiro ser
essa metamorfose ambulante

Do que ter aquela velha opnião

formada sobre tudo!