Sentada a beira do caminho...
Se gosto muito mais de mim hoje, se minha vida tem algo que eu considere interessante e satisfatória, devo aquela menina que eu era aos 15, 16, 17 e 18 anos.
Graças a ela sou o que sou hoje!
Foi a força, garra e sobretudo, vontade dela de crescer que me fez ser a pessoa de hoje.
Se pudesse eu iria até ela para conversarmos.
Eu até posso vê-la sentada no chão, no degrau do portão de casa, à noite.
Sozinha. A rua, com iluminação fraca nos postes, praticamente deserta. Na época era possível uma mocinha ficar ali sentada, mesmo que sua mãe não gostasse muito dessa exposição. Mas nessa noite, eu sei que ela está ali sentada por que sua mãe está estudando à noite, seus tios e tias já se casaram, seu irmão também está no curso e seu pai está na casa de algum vizinho vendo televisão. A rua é a continuação da sua casa, pois todos ali a viram nascer e crescer. Do outro lado da rua ela pode ver dois rapazes, cada um no seu portão, também sem terem o que fazer para se distrair nessa noite que pode ser verão ou inverno, porque coisa pouca muda nas diferentes estações. E eles ficam ali, cada um no seu canto presos pelas correntes da
timidez. Há noites em que ela se rebela e atravessa a rua e vai de encontro a um ou a outro para conversar. Mas os assuntos são tão monossilábicos!!
Nenhum deles tem experiência ou bagagem para muitas conversas mesmo que o país em que vivem estar passando por um momento revolucionário. São, os três, alienados. E ela sente que algo importante está acontecendo, só não sabe bem o que é.
Quando ela fica no seu degrau pensando, ela sabe que não vai ficar a vida toda ali naquele bairro, naquela rua, naquela vida!
Pra isso ela sabe que vai ter que se levantar e ir a luta. Vai ter que trabalhar, ler, estudar. E nada disso a amedronta. Nem mesmo ficar sentada no portão em frente da casa às escuras.
A esquina da sua rua é sua meta, pois de lá se vai para o mundo.
E se eu fosse até ela? ela me receberia para conversar? Acho que sim! Mesmo tímida sei que ela é aberta para novas amizades, principalmente se o assunto for interessante.
Acho que terei vontade de abraçá-la, mas isso, com certeza irá assustá-la.
Mas não a assustarei se contar que vim do futuro. Isso a deixará totalmente encantada, pois esse é um assunto que ela crê. Viagens espaciais, astronomia, ficção científica, viagens no tempo, a Lua, são temas que lhe causam grande curiosidade.
Então, com a confiança estabelecida eu irei tranquilizá-la contando que tudo dará certo, que a vida, como de qualquer pessoa que sonha, mas que se prepara para que o sonho não seja só um sonho, a vida terá muitas esquinas para serem viradas, e depois delas virão caminhos... um leque deles! E que ela saberá aproveitar bem todos eles! Direi que ela fará bem em não ter pressa, não enfiar os pés pelas mãos, que ela só me dará orgulho e uma boa base para seguir em frente.
E que ela é tudo o que uma mulher gostaria de ter sido na juventude.
Agora posso continuar afirmando: "Gosto muito de mim hoje, por que amo aquela menina sentada no degrau do portão!"