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Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

quinta-feira, janeiro 20, 2011

Pagando promessa alheia

O dia de São Sebastião ficou guardado na minha memória de infância como o "Dia de Passar Vergonha".
Explico:
Algumas pessoas tem (ou tinham) o habito de fazer promessas para Santos e Santas, pedindo isso ou aquilo, mas o pagamento da tal promessa fica destinado a outra pessoa.
"Meu São Benedito se o meu cajueiro der mais de 100 cajus, minha filha vai vestir branco o resto da vida"
"Minha Nossa Senhora das Dores se não chover nesse inverno meu filho vai passar todos os invernos da vida dele sem usar casaco"
E a loucura vai por esse caminho...
Pois bem, no meio da vida atribulada em que minha avó materna vivia, e não sei o por quê da promessa, ela levantou os olhos para São Sebastião e pediu o que tinha que pedir, com a condição de que ela e seus descendentes seguiriam a procissão do santo, descalços e vestidos como o mártir aparece em sua imagem: um calção vermelho-sangue e uma faixa no peito da mesma cor!
Bonita homenagem, não tenho dúvidas!
Mas por que seus descendentes foram citados é coisa que só ficou entre ela e o Santo.
Então, como minha mãe não quis quebrar a corrente, passamos, nós, netos e filhos, a seguirem a procissão descalços e vestidos como o santo: short de cetim vermelho e faixa!
A princípio, isso é, quando éramos pequenos, nos sentíamos mais que importantes vestidos daquela maneira no meio do povo. Sem contar que ao final do pagamento sempre havia uma parada na padaria para tomar água mineral com gás (um luxo na época!)
Mas o tempo foi passando, e seguir a procissão naquela maneira já não era tão legal, principalmente por que pela idade não havia mais um colo e todo caminho era feito a pé mesmo.
Depois veio a vontade de morrer quando passávamos pela rua onde ficava o colégio e, sempre víamos um ou outro colega de estudo nos olhando com aquele risinho debochado no canto da boca. A vela que segurávamos era por demais fina para nos esconder atrás dela !!
Ao final da jornada estávamos arrasados física e emocionalmente! Pés e imagem esfolados! Mãos e alma doendo! E nem podíamos nos dar ao "desplante" de reclamar pela "pagação de mico" pois a expressão não existia na época!
O que nos consolava era o copo de água mineral com gás que viria a seguir, mas até isso foi nos tirado pois "já éramos grandes e podíamos muito bem esperar até chegar em casa"
Ai, criança sofre !!
A libertação para nós veio com a fase adulta! Ninguém mais quis saber da tal promessa! Não sabemos se com isso nos foi lançada alguma maldição macabra, mas temos consciência de que fizemos a nossa parte, mesmo sem rezar uma só palavra, mesmo resmungando em todo o caminho, mesmo queimando a mão com a lágrima da vela, mesmo com toda vontade de cortar caminho por uma rua que levasse à igreja mais depressa!!
Minha mãe não! Mesmo com seus 77 anos, ela sai de casa, vai até a igreja, retira seus sapatos e vai  seguindo a procissão. Com chuva ou com sol.
Mas ela é de outra época.
Uma época em que se respeitava as decisões dos pais sem discutir ou questionar.
Mesmo as decisões mais loucas, como pagar promessa feita por outra pessoa!
Não sei se com o passar dos anos, quando estivermos com muito mais idade e com muitas experiências boas e ruins na vida, nós também, filhos e netos, num feriado do dia 20 de janeiro, sairemos de casa, iremos até a igreja, tiraremos nossos sapatos e, com orgulho, devoção e fé, em homenagem à nossa vó e mãe, seguiremos cantando e rezando a todo pulmão, sem um pingo de vergonha ou dor, com a faixa vermelha no peito e com os olhos fixos na imagem do santo guerreiro!
Só aí entenderemos o porquê de tudo isso!

1 Comentários:

Anonymous Rubia disse...

Engraçado eu minha mãe sempre falava que se vestia assim é de anjo rs, mas eu tenho uma enorme devoção por esse santonio, nunca sai vestida assim, graças a Deus e nunca fui forçada a ir se quer a igreja, mas minhá paróquia e NS Conceição e São Sebastião, isso é muito engraçado pq eu sempre participei da procissão, cantar na missa do padroeiro uma honra. Até o dia em que este dia ficou marcado com o falecimento de minha avó paterna, sim no dia de São Sebastião, eu cantava na missa ... em fim mudou a forma de prestigiar mas ele está na essência de nossa família! !!

sábado, dezembro 16, 2017 12:53:00 AM  

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