A Fábula do Passarinho Feio
Era uma vez, vejam vocês, um passarinho feio
que não sabia o que era, nem de onde veio
então vivia, vivia a sonhar em ser o que não era
voando, voando com as asas da quimera...Era uma vez... Assim inicia a música "Lenda do pégaso", de Moraes Moreira e Jorge Mautner.
Difícil imaginar um passarinho feio? Não! Quando se trata de filhotes, pelados e com os olhos fechados, não há como achá-los bonitos.
Em agosto, no mundo das aves é o mês em que eles começam a se reporduzir, antecipando a primavera.
Árvores, telhados de casas ou um pequeno buraco na parede são escolhidos para a construção dos ninhos. Em questão de semanas, milhares de passarinhos feios ganham vida.
E a múcsica fala de um passarinho que não só é feio, mas que também não sabia o que era nem de onde veio.
Imagine um filhote dentro de um ninho, sem penas e com os olhos fechados. Totalmente dependente! O mundo pra ele é um punhado de palha, que o protege, e os pais, que vão e vem trazendo comida e, eles, por instinto esticam o pescoço e abrem o bico. Antes mesmo de abrir os olhos, eles já conhecem a competição.
Com as asas desenvolvidas, ele tem que abandonar o ninho e se lançar na incerteza da vida. A sorte está lançada!
Nós também parecemos passarinhos feios. Quando nascemos, somos dependentes e também não sabemos o que somos e nem de onde viemos. Crescemos bem mais devagar que os passarinhos, mas também deixamos nosso ninho. Ao invez de voar, temos que trabalhar para ganhar a vida.
E a música continua, penso que falando mais dos homens do que das aves:
"Sonhava ser uma gaivota, por que ela é linda e todo mundo nota
E, naquela pretensão, queria ser gavião
E, quando estava feliz, quis ser a misteriosa perdiz
E vejam, então, que vergonha, quando quis ser a sagrada cegonha
E, com a vontade esparsa, sonhava ser uma linda garça
E, num instante de desengano, queria apenas ser um tucano
E foi aquele, aquele ti-ti-ti, quando quis ser um colibir
Por isso lhe pisarm o calo e aí então cantou de galo"
Quem nunca desejou ser o que não era? A música continua citando aves que o passarinho feio desejou ser, cada qual com uma qualidade humana. Dá pra perceber que não se trata de uma ave. Só mesmo os humanos para ter tantos desejos...
Talvez, se tivéssemos asas, teríamos uma vida mais simples. Como não temos voamos através dos sonhos. E o pior é que mesmo depois de sair do ninho, desejar e sonhar muito, continuamos sem saber quem somos ou de onde viemos. Mas podemos saber o que não somos! Se ficarmos de pé em frente a um espelho quem vemos? A nós mesmos? engano! No espelho só está uma parte de nós, por sinal, uma parte finita.

"Aí então Deus chegou e disse: Pegue as mágoas
pegue as mágoas e apague-as, tenha o orgulho das águias
Deus disse ainda: é tudo azulE o passarinho feio virou o cavalo voador, esse tal de Pégaso"
Pégaso, na mitologia grega é o cavalo alado, símbolo da imortalidade.
É como se vê, o mundo das aves até em forma de fábula tem muito a nos ensinar.