Pensamentos Noturnos

Nessa história toda o que mais tenho medo é de me tornar uma pessoa amarga com a vida.

Por tudo o que ela não me deu e nem me permitiu oferecer.

Pelos carinhos que minha mão não pode dar, pelos beijos que não dei, pelas milhares de noites de amor que não aconteceram, pelos colos que não deitei a cabeça quando tive vontade, pelas palavras gentis que nascem, vivem e morrem dentro de mim por não ter quem ouvir.

Por essa imensidão de coisas boas, ternas e felizes que não foram vividas e divididas durante os anos
que passam rápido.

Tenho medo de não ter lembranças para lembrar, momentos para recordar e suspiros para suspirar.

Tenho medo de me tornar uma pessoa tão vazia de espaços antes tão cheios de emoções que, se esgotou, como, por exemplo, uma represa, tão absurdamente cheia, que um dia transborda, explode a barreira e toda a água se vai, deixando apenas um enorme buraco vazio e seco.

Tenho medo de um dia me olhar no espelho e ver uma pessoa que não conheço e que me olha com um olhar duro e triste.

Tenho medo de um dia não ter mais a capacidade de me encantar, de chorar, de sentir, de querer, de desejar.

Disso tenho medo. De não ter tempo de amar tão completamente como gostaria e que sei que posso.

E que o doce que ainda guardo dentro de mim, do meu pensamento, do meu coração, do quente do meu abraço, se transforme em amargor.

E eu me transforme numa pessoa discrente, com o cabelo preso e braços sempre cruzados.

Que o imenso amor que convive com minhas células morra e eu passe a circular pelo mundo com um cadáver interno exalando mau cheiro e que aos poucos afastará as pessoas de mim.

É tarde e eu estou tão triste, que penso que nada disso deveria ser dito a alguém, mas que isso lhe sirva de alerta, algumas mulheres as vezes são tão bobas em seus pensamentos e se sentem tão perdidas...

Ou, como costumo dizer, deveriam beber menos vinho.