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Local: Rio de Janeiro, RJ, Brazil

Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

domingo, julho 15, 2012

Simples assim...

"Só nós dois é que sabemos o quanto nos queremos bem. Só nós dois é que sabemos, só nós dois, e mais ninguém"


Quando entrou no carro alugado ela se sentia triste e solitária. Talvez fosse por estar há tanto em um país estrangeiro, longe de seus familiares.
Era difícil pra ela fazer novos amigos, por seu temperamento tímido e reservado. Por vários finais de semana havia ficado dentro do pequeno apartamento lendo ou dormindo, até que no trabalho ouviu alguém falando sobre um motorista de taxi que fazia alguns trabalhos particulares nos finais de semana. É lógico que a decisão de ligar pra ele e combinar um passeio não veio assim de repente. Foi algo muito pensado, calculado e revisto. Até que na sexta-feira à noite fez a ligação. Ainda estava no trabalho, por isso falava baixo, quase sussurrando, para que não ouvissem. Se sentia como se estivesse fazendo algo errado. A voz, do outro lado, cheia de sotaque, era forte e de alguém mais velho. Isso era bom, ela pensou. Nem entendeu por que pensou nisso.
No horário marcado o carro chegou. Ela entrou e se sentou no banco de traz. Se sentiu novamente triste e solitária, mas ao mesmo tempo reconfortada pelo quente no interior do veículo. Lá fora corria um ventinho frio e ela imaginou que só ela pra resolver fazer um passeio num dia assim.
O motorista a olhou pelo retrovisor e ela pode ver seus pequenos olhos azuis. Ele lhe perguntou o que ela queria visitar primeiro e ela respondeu que deixava a escolha dele.
O carro deu uma volta pelo centro da cidade e depois pegou a estrada.

Ele lhe perguntou se ela conhecia alguns pontos turísticos do país e suas histórias.
Ela não conhecia nada. Não teve tempo para isso e nem disposição. Seus colegas de escritório formaram grupos de passeios mas ela não quis participar, por não ter o que conversar com eles durante os passeios.
Então ele passou a dirigir e contar histórias sobre os locais por onde passava. Ele falava, apontava para o local e a olhava pelo espelho. As vezes ria das próprias piadas. Um riso solto quase infantil.
Aos poucos ela foi saindo daquela tristeza e realmente de interessou pelo que ele falava. Foi descobrindo paisagens magníficas, histórias impressionantes, um país carregado de momentos decisivos na trajetória do mundo.
De onde estava ela podia ver a mão grossa do homem segurando o volante. Era a mão de um homem simples, limpa e forte. Ele falava e mostrava com orgulho a sua cidade.
Numa das paradas ele a levou para ver o mar, do alto da serra. Mesmo falante ele reconhecia seus limites e a deixava andar sozinha absorvendo a paisagem, o fio de luz do sol, o vento nos cabelos.
Ela ficou ali parada enchendo os olhos de tanta beleza. Sabia que sua terra estava do outro lado daquele oceano. A vontade foi de gritar o nome da mãe, na esperança de que ela ouvisse da janela de sua casa.
Ao voltar-se para o carro, ela o viu parado, ao lado do carro, sorrindo, como quem compartilha da alegria da beleza da natureza. No ombro, sua bolsa pendurada, que ela havia esquecido no banco do carro. Era estranho, ver aquele homem bruto e simples, sem nenhum preconceito por estar com uma bolsa feminina pendurada nos ombros.
Dali ele a levou para almoçar, num pequeno restaurante de beira de estrada, mas que a dona era uma conhecida dele. Enquanto esperavam o peixe ser frito, a proprietária ofereceu-lhes uma caneca de vinho, que eles beberam sentados na varanda da casa, que dava para um penhasco. Ela nada disse e ele também não.
Durante o almoço sentaram-se frente a frente e, talvez por efeito do vinho, ele não parou de contar casos interessantes sobre a região. Ao final do almoço ela se sentia mais relaxada e, ele convidou-a pra dar uma volta. A proprietária indicou-lhes um caminho de descida, onde eles poderiam apreciar uma pequena lagoa cercada de bonita vegetação. O lugar era realmente formidável. Como alguém iria imaginar que no meio das árvores haveria um local tão bonito e acolhedor. Sob uma árvore havia um banco de dois lugares e eles ficaram ali olhando a água. Um rapaz aproximou-se trazendo uma bandeja com café e pequenos biscoitos. Tudo ali era confortador. Quebrando o silencio o motorista contou que era casado e tinha uma filha na faculdade. Sua esposa trabalhava como voluntária num hospital e que eles tinham uma vida tranqüila. Ela contou que nunca se casara e nem tinha filhos. Vivera a vida para o trabalho e por isso se afastara dos amigos. Ele a olhou espantado, como se não entendesse a decisão dela, e continuou falando de sua família. O café aqueceu a conversa e ela, enquanto ouvia as histórias dele, pode observá-lo melhor e poder ver que provavelmente ele era mais novo do que ela, que ele ficava extremamente vermelho quando ria, o que tornava ainda mais azuis os seus pequenos olhos.
Ele quis saber por quanto tempo ela ainda ficaria no país e ela respondeu que no final do mês estaria retornando para sua terra. Ao final do café voltaram para o carro. Ela se sentou no banco da frente, ao lado do motorista.
A parte da manhã eles haviam visitado as cidades do alto da serra, agora o carro descia para as praias.
Ao se deparar, numa curva da estrada, com o contorno das praias lá embaixo, ela se perguntava por que tinha perdido tanto tempo para fazer esse passeio.
O mar batia suas ondas nas rochas do continente fazendo um imenso barulho jogando gotas de água salgada no ar. Eles desceram do carro e foram caminhar na areia grossa e escura. O vento fazia com que o cabelo dela voasse enquanto ela tentava mantê-lo no lugar. Ele riu e pegou no chão uma tira de mato ressecado que prendeu nos cabelos dela formando uma coroa. Ela achou tudo muito divertido. Ele quis saber se ela tinha uma máquina fotográfica. Ela havia se esquecido da máquina e assim que a entregou o motorista bateu várias fotos suas. Brincando ela fez poses. Um cachorro apareceu não se sabe de onde e correu até eles. Os três brincaram de correr na beira da água, molhando as roupas.  O ar se encheu de risos e latidos.
Cansados os dois se apoiaram no carro e nesse instante o sol começou a se pôr. Ficaram assim, lado a lado, apreciando o anoitecer chegar. Encostada nele, ela apoiou a cabeça em seu ombro. Ele, retribuiu, apoiando a própria cabeça na cabeça dela.
A viagem de volta foi admirando os lugares à noite.
A lua cheia refletindo no rio fazia com que tudo se transformasse em algo mágico.
Ele não precisava, nem estava no roteiro, mas a levou para jantar. Pra ele ainda havia muitas coisas pra falar e mostrar de sua cidade. Se pudesse, mostraria o país inteiro. Quem sabe ela se interessasse por um outro
passeio em um outro dia antes de partir?
Eles comeram, conversaram, riram e beberam vinho.
Na porta do edifício onde ela morava o carro parou e ela tirou o dinheiro combinado. Ele aceitou, guardou na carteira e saiu para abrir a porta para ela. Ela agradeceu o maravilhoso dia e estendeu a mão. Ele a pegou e a
puxou para si. Na calçada eles ficaram abraçados. Ela sentiu um arrepio lhe correr o corpo. Ele interpretou como sendo frio e a envolveu mais com seus braços e continuaram assim. Ela sentiu o conforto de seu corpo. Ele aspirou o cheiro do cabelo dela. Uma buzina fez o momento se desfazer e novamente eles apertaram as mãos e ela entrou no prédio, sem olhar para tras.
Na véspera dela ir embora, ele lhe telefonou perguntando se ela precisaria de transporte para o aeroporto. Ela agradeceu e disse que usaria o carro da empresa. Ele quis saber se ela retornaria. Ela respondeu que não. Ele
desejou boa viagem. Ela agradeceu. E os dois ficaram em silencio. Por um minuto o silencio se fez, até ele desligar e ela ouvir o som de sinal do telefone.
Agora, em sua cidade, quando ela olha para o mar, sabe que do outro lado do oceano, alguém pensa nela com carinho, e enquanto pensa, um par de pequenos olhos azuis olha para o lua cheia e aspira o ar tentando encontrar o perfume do cabelo dela.

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