Canalhas
A escritora, jornalista e dramaturga Martha Mendonça está lançando a obra “Canalha, substantivo feminino”, um livro contra indicado para românticos e apaixonados. No livro, composto de seis histórias contadas na primeira pessoa, Martha descreve mulheres que encarnam o estereótipo da mulher moderna que assume o papel masculino em seu pior enredo, cometendo canalhices como seduzir e abandonar uma pessoa carente e conquistar o homem da melhor amiga.
O interessante do livro é que joga por terra o conceito de que mulheres não tem esse dado em sua persolidade. Não digo "todas as mulheres", do mesmo jeito que não são "todos os homens" que são canalhas. Mas a canalhice tá aí no homem ou na mulher. Antes, simplesmente achavam que só as mulheres eram as vítimas desses tipos, mas se observarmos bem o comportamento de algumas "belas" que até vivem perto de nós, perceberemos que muitas vezes os homens são vítimas também.
Do mesmo jeito que o homem-canalha, a mulher-canalha não é aquela ex-namorada que resolve se vingar do namorado traidor, ou aquela mocinha que trai a confiança de uma amiga. Essas mulheres fazem parte de outra categoria. A mulher-canalha é que faz o que faz por pura diversão. Ela não tá nem aí pra vingança, ela simplesmente quer se divertir sem pensar nas consequencias. Ela quer realizar seus desejos sexuais sem pensar se o noivo vai sofrer, ou se vai perder a melhor amiga.
Me incomoda esse tipo de emancipação. Me incomoda a mulherada, para mostrar que são livres e independentes, começarem a copiar o que tem de mais vulgar num homem.
Em 1991, quando o filme "Thelma e Louise" foi lançado muito se falou sobre a dupla, e descreveram as atitudes delas como uma libertação, afinal as duas protagonistas iniciam o filme como uma garçonete e uma dona de casa vivendo vidas monótonas que resolvem deixar tudo para trás num fim de semana. No caminho se envolvem em encrencas que vão se tornando uma bola de neve até o final trágico. Já vi o filme várias vezes e adoro a atuação de Susan Saradon e Geena Davis, mas sempre me pergunto se havia necessidade de, para mostrar a enfim liberdade das duas, que elas assumissem um comportamento tão masculino. Para se imporem as duas se transformaram em dois machinhos e passam a copiar tudo o que antes elas abobinavam em seus parceiros: passaram a ser grosseiras e violentas. A transformação das duas é nítida nas telas, desde as roupas até nos gestuais.
Aí vem a pergunta: nós, mulheres, precisamos nos masculinizar para ter liberdade? Precisamos cuspir no chão e usar boné pra provar que estamos lado a lado com os homens? Temos que brigar no bar, dar soco na cara e coçar entre as pernas, para mostrar que "quem manda em mim sou eu"?
Somos mais que isso...
Podemos estar a altura de qualquer homem com inteligencia e doçura. Brigar sem quebrar a unha nem despentear os cabelos. Mostrar competência sem desfiar a meia ou borrar o baton. Conquistar sem ser vulgar. Se divertir sem ser canalha. Ganhar espaço, trabalhar, subir na vida, sem trair, puxar o tapete de alguém ou descer a lingerier. Sem ser santa, sendo uma vitoriosa.
Afinal o penhasco não deve ser o destino de mulheres livres.
0 Comentários:
Postar um comentário
Assinar Postar comentários [Atom]
<< Página inicial