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Sou a prima mais velha de uma turma de 32 primas! Gosto de rir e de fazer rir. Adoro conversar, mas principalmente de ouvir. Beber Mate, vinho e Martini. Ver filme aos sabados com os amigos. Sou fiel aos meus sentimentos e respeito os dos outros. E de escrever, é lógico!

quinta-feira, março 31, 2011

Maria, Maria - Parte 1

O trem estava cheio e abafado, mas Maria agradecia aos céus por ter conseguido pegá-lo. Mesmo com todo desconforto esse era o transporte que a levava mais rápido e a deixava perto de casa. Antes do trem ela enfretara um ônibus, pois trabalhava na Zona Sul como empregada doméstica. Suportava o vagão cheio por que não se importava mais se algum abusado ia se esfregar nela. Ela já havia passado por coisas piores que isso e o importante era chegar cedo em casa.

Seu barraco ficava no alto da favela. Era um cômodo só, feito de tijolos, paus, folhas de zinco, plástico, papelão e o que desse para tapar buracos. Ali viviam suas duas filhas, ainda pequenas e ela.

Quando Maria chegava em casa ia logo preparar o jantar com as sobras que recebia das casas onde trabalhava. As vezes ganhava um pedaço de toucinho, um pão dormido, uma cabeça de alho, uma panela de feijão, enfim coisas que as pessoas nçao queriam mais e que para ela era a salvação da noite. Cozinhava com lenha por que fogão era um luxo que ela não podia ter.

No calor levava as meninas para tomar banho na fonte lá no alto do morro. No inverno trazia água em garrafas de plástico das casas das patroas, esquentava, colocava as duas meninas em pé dentro da bacia e as banhava ali mesmo, no meio do barraco. Ainda aproveitava a água pra lavar algumas peças de roupa. Durante o dia as meninas ficavam sozinhas no cubículo. A de oito anos tomando conta da de cinco. Elas dormiam mais do que ficavam acordadas. Diziam que era por fraqueza.

Em menina Maria morava no interior do estado. Logo pequena tomou consciência de que era feia. Sabia disso e que seu destino não seria fácil. Pobre, negra e feia. Trabalhava na roça junto com sua mãe. Seu pai havia morrido de pneumonia. Assim que Maria ficou mocinha foi violentada por um cabra cortador de cana que visitava a região. Maria nem sabia o que estava lhe acontecendo. Ficou grávida! Trabalhando até o momento do parto ela não conseguiu dar a mãe o necessário para a sobrevivência e sua mãe veio a falecer logo após Maria dar à luz à Mariana. Sendo o pai de Mariana um homem branco, a menina nasceu clarinha como um chumaço de algodão.

Com uma criança no colo e a mãe morta, Maria resolveu ir para a capital tentar a vida.

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