Do Diário da India Ceci - Vol IX
Nós atravessávamos um período de muito frio. Quase não saíamos de dentro de nossas ocas. Havíamos armazenado uma boa quantidade de alimentos, galhos e peles para nos aquecer. Passávamos o tempo ouvindo histórias, dormindo ou costurando agasalhos, redes e calçados.
Nossa fogueira, no meio da oca, era constantemente vigiada para que não se apagasse. Todos nós, adultos e crianças, éramos responsáveis por sua manutenção.
Nossos animais ficavam presos do lado de fora, mas sempre um cachorro ou outro consegui entrar e se instalar perto da entrada do lado de dentro, aproveitando a quentura do local.
Quando todos estavam dormindo eu chamava o meu cachorro pra perto de mim. Ele se deitava a meu lado, eu o cobria e nós dormíamos quase abraçados. Eu gostava de sentir o pelo dele no meu corpo e me sentia mais quentinha.
Uma madrugada, acordei e reparei que ele não estava do meu lado.
Chamei por ele baixinho: "Trovoada" - mas ele não apareceu como sempre fazia, balançando o rabo.
Saí de baixo das peles e olhei ao redor dentro da oca.
Todos dormiam e a fogueira estalava feliz!
Abri a entrada da oca e o vento cortante cantava lá fora na noite escura e sem lua. Provavelmente até ela havia se protegido junto com as estrelas da noite fria.
Continuei andando à procura do meu filhote. Alguns animais acordaram e me olharam de um jeito parecendo perguntar o que eu fazia ali fora no frio.
Mas eu não podia retornar para o meu canto sem saber o que havia acontecido com Trovoada.
Dei a volta na aldeira e nada de encontrar o fujão.
Saí então pela entrada principal que dava para a floresta e para o rio. Ao pensar no rio senti um grande medo! E se ele tivesse ido beber água e caído no rio? Ele era pequeno como eu e, com certeza a correnteza o levaria. Com esse pensamento entrei na floresta sem olhar para tras, olhando para todos os lados à procura do meu filhote. Mas a noite estava tão escura e fria que meus pezinhos começaram a doer e congelar.
Ao longe vi uma árvore grande com uma abertura no tronco. Entrei pela abertura e me instalei o melhor que pude. O vento continuava a cantar sua música triste. Tentei cantar junto mas minha boca estava muito seca. Eu não
estava com medo. O vento, o frio e a chuva são forças da natureza, assim como eu e meu filhote.
Quando fui me ajeitar mais no fundo do tronco esbarrei em algo: Trovoada!!
Ele tremia e seu olhar era assustado! Eu o abracei e beijei! Sua barriguinha, sempre tão quentinha estava fria como seu focinho. Tentei aquecê-lo mas o frio era muito.
Do fundo do tronco observei como a natureza é forte e poderosa! Era a primeira vez que eu me encontrava numa situação assim. Comecei a ficar orgulhosa de fazer parte de algo tão grandioso. E, pensei, se faço parte da natureza, provavelmente tudo que existe nela eu também tenho. As vezes corro como o vento, fico tranqüila como as águas do riacho, me abro em sorrisos como algumas flores e, como diz minha mãe, derramo lágrimas como as cachoeiras !!
Pensando assim, me perguntei: "E onde está meu sol?" Talvez se eu procurasse bem dentro de mim eu o achasse.
Então, comecei a olhar pra dentro de mim, procurando o meu sol, enquanto o vento cantava alto.
E vi a imagem dos braços fortes de meu pai me levantando para pegar uma fruta no alto de uma árvore, vi o sorriso de minha mãe amamentando meu irmão pequenino em seu peito, lembrei do cheiro doce dele, escutei minha avó contando histórias em volta da fogueira, me lembrei do banho de rio no último verão, da imensa fogueira no centro da taba na festa da primavera, da braza vermelha e amarela estalando, da tigela de sopa soltando fumaça e, de repente foi se formando no meu peito um sol tão quente que foi crescendo e tomando meu corpo! Eu era uma grande bola de fogo, iluminando o tronco e aquecendo a mim e ao Trovoada! Meus pézinhos não estavam mais frios!
Eu sabia que agora conseguiria voltar pra junto da minha família.
Corri com Trovoada no colo em meio ao vento, mas eu estava aquecida e iluminada! Eu podia ver a escuridão a meu redor, mas eu era como uma tocha iluminando o caminho.
Cruzei o quadrado da aldeia e entrei em nossa oca. Todos dormiam e meu sol continuava a arder! Eu olhei para minha família que dormia sem saber o que havia acontecido. Meu sol vinha dali, daquela união, daquele aconchego, daquele calor.
Pouco a pouco meu sol foi se pondo como nas tardes de outono, a oca foi se enchendo de penumbra e a fogueira ardia docemente.
Eu me deitei no meu canto. Puxei as mantas, cobri o Trovoada e dormimos mansamente.
Nossa fogueira, no meio da oca, era constantemente vigiada para que não se apagasse. Todos nós, adultos e crianças, éramos responsáveis por sua manutenção.
Nossos animais ficavam presos do lado de fora, mas sempre um cachorro ou outro consegui entrar e se instalar perto da entrada do lado de dentro, aproveitando a quentura do local.
Quando todos estavam dormindo eu chamava o meu cachorro pra perto de mim. Ele se deitava a meu lado, eu o cobria e nós dormíamos quase abraçados. Eu gostava de sentir o pelo dele no meu corpo e me sentia mais quentinha.
Uma madrugada, acordei e reparei que ele não estava do meu lado.
Chamei por ele baixinho: "Trovoada" - mas ele não apareceu como sempre fazia, balançando o rabo.
Saí de baixo das peles e olhei ao redor dentro da oca.
Todos dormiam e a fogueira estalava feliz!
Abri a entrada da oca e o vento cortante cantava lá fora na noite escura e sem lua. Provavelmente até ela havia se protegido junto com as estrelas da noite fria.
Continuei andando à procura do meu filhote. Alguns animais acordaram e me olharam de um jeito parecendo perguntar o que eu fazia ali fora no frio.
Mas eu não podia retornar para o meu canto sem saber o que havia acontecido com Trovoada.
Dei a volta na aldeira e nada de encontrar o fujão.
Saí então pela entrada principal que dava para a floresta e para o rio. Ao pensar no rio senti um grande medo! E se ele tivesse ido beber água e caído no rio? Ele era pequeno como eu e, com certeza a correnteza o levaria. Com esse pensamento entrei na floresta sem olhar para tras, olhando para todos os lados à procura do meu filhote. Mas a noite estava tão escura e fria que meus pezinhos começaram a doer e congelar.
Ao longe vi uma árvore grande com uma abertura no tronco. Entrei pela abertura e me instalei o melhor que pude. O vento continuava a cantar sua música triste. Tentei cantar junto mas minha boca estava muito seca. Eu não
estava com medo. O vento, o frio e a chuva são forças da natureza, assim como eu e meu filhote.
Quando fui me ajeitar mais no fundo do tronco esbarrei em algo: Trovoada!!
Ele tremia e seu olhar era assustado! Eu o abracei e beijei! Sua barriguinha, sempre tão quentinha estava fria como seu focinho. Tentei aquecê-lo mas o frio era muito.
Do fundo do tronco observei como a natureza é forte e poderosa! Era a primeira vez que eu me encontrava numa situação assim. Comecei a ficar orgulhosa de fazer parte de algo tão grandioso. E, pensei, se faço parte da natureza, provavelmente tudo que existe nela eu também tenho. As vezes corro como o vento, fico tranqüila como as águas do riacho, me abro em sorrisos como algumas flores e, como diz minha mãe, derramo lágrimas como as cachoeiras !!
Pensando assim, me perguntei: "E onde está meu sol?" Talvez se eu procurasse bem dentro de mim eu o achasse.
Então, comecei a olhar pra dentro de mim, procurando o meu sol, enquanto o vento cantava alto.
E vi a imagem dos braços fortes de meu pai me levantando para pegar uma fruta no alto de uma árvore, vi o sorriso de minha mãe amamentando meu irmão pequenino em seu peito, lembrei do cheiro doce dele, escutei minha avó contando histórias em volta da fogueira, me lembrei do banho de rio no último verão, da imensa fogueira no centro da taba na festa da primavera, da braza vermelha e amarela estalando, da tigela de sopa soltando fumaça e, de repente foi se formando no meu peito um sol tão quente que foi crescendo e tomando meu corpo! Eu era uma grande bola de fogo, iluminando o tronco e aquecendo a mim e ao Trovoada! Meus pézinhos não estavam mais frios!
Eu sabia que agora conseguiria voltar pra junto da minha família.
Corri com Trovoada no colo em meio ao vento, mas eu estava aquecida e iluminada! Eu podia ver a escuridão a meu redor, mas eu era como uma tocha iluminando o caminho.
Cruzei o quadrado da aldeia e entrei em nossa oca. Todos dormiam e meu sol continuava a arder! Eu olhei para minha família que dormia sem saber o que havia acontecido. Meu sol vinha dali, daquela união, daquele aconchego, daquele calor.
Pouco a pouco meu sol foi se pondo como nas tardes de outono, a oca foi se enchendo de penumbra e a fogueira ardia docemente.
Eu me deitei no meu canto. Puxei as mantas, cobri o Trovoada e dormimos mansamente.
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