Morada de minh'alma

Sou várias dentro deste corpo que me protege.
Sou tantas que me perco.
Esse corpo que me protege é abrigo, morada.
É um prédio sempre em construção.
Há andares, quartos, sótão e porão.
Num dos andares vive minha criança,
deve ter uns oito anos,
que ri de qualquer bobagem,
corre pelos corredores balançando suas tranças.
Adora gatos, fazer desenhos, comer doces
e confundir os outros moradores com suas indagações.
No quarto andar vive uma mulher sofisticada,
que adora ler, ouvir música clássica, de beber vinho.
Se lhe chamo para uma exposição
ela sorri e aceita na hora.
Há noites em que a ouço tocando seu piano.
E minha morada se enche de música!
Vive também neste andar
um homem forte e corajoso,
que não foge de briga,
destemido e despachado, carrega peso,
nem se amedronta com as artimanhas da vida.
Não sei o seu nome,
mas sei que posso contar com ele
se me sinto fraca.
Bem no alto mora uma adolescente,
em seus verdes anos ela quer conhecer o amor,
escreve diário, canta alto e provoca os meninos.
Seu cabelo está pintado de vermelho.
Em seu frescor ela sonha com o príncipe
mesmo afirmando que seu desejo
é conhecer primeiro o mundo,
com uma mochila nas costas.
Há dias em que ela liga o som,
E coloca todos do prédio pra dançar.
No porão habita uma velha.
As vezes amarga, rabugenta,
que prefere ficar as escuras, isolada.
Passa os dias deitada em seu sofá resmungando.
Reclamando de uma vida que não viveu.

que vive no quinto andar.
Esta comemora seus aniversários como uma fada.
Encantada!
Ri alto, sabe tudo de cinema.
É curiosa, quer voltar a estudar,
e adora brincar com a menina de tranças.
Meu poeta favorito vive no sexto andar.
Sua porta está sempre fechada.
Não para se isolar, mas para criar clima
Pela fresta pode-se ver a luz do abajur acesa.
Meu poeta vira a noite
debruçado sobre papeis a escrever.
Escreve mais para si do que para o mundo
Derrama poesia sobre a mesa,
Que escorre pelo chão,
Invade os corredores
E preenche os espaços vazios desse meu abrigo.
Em um do

vive alguém que não conheço,
pois raramente ela sai para se mostrar.
Seus lamentos são ouvidos à noite,
principalmente às sextas-feiras de lua cheia.
Lamentos como uivos de lobos.
Como quem quer se perder na noite,
arder de paixão em suas sandálias de salto alto,
batom carmim e perfume barato.
Mas sua porta está trancada
E ela perdeu as chaves.
Habita também nesse meu prédio interior,
uma executiva nos seus blaser e terninhos.
Podemos ouvir o salto de seu escapin
batendo forte no chão dos corredores.
Ela entende de documentos, leis, papéis.
O teclado do seu computador
não descansa nem nos finais de semana.
É seu piano imaginário.
Mas nem todos os moradores
são simpáticos, amáveis ou risonhos.
Há um morador que as vezes me assombra
qual fantasma assustador.
Quando resolve aparecer
me joga pedras, me chicoteia e me fere.
Joga na minha cara minhas imperfeições e deslizes.
E tudo de podre que há no fosso de minha construção.
Num dos quartos dos fundos
vive meu meu zelador !
Todo prédio tem um.
É ele quem conserta meu interior.
Dá resposta as minhas dúvidas,
derruba paredes,
abre espaços,
constrói outros cômodos,
cura minhas feridas,
varre minhas tristezas,
areja o ambiente,
cuida do meu jardim.
Minha linda princesa vive na cobertura,

bem no alto,
quase nas nuvens.
Minha princesa escolheu esse lugar
por que gosta de receber o calor do Sol
e de apreciar os mistérios da Lua.
Ela é meiga e delicada,
branca e carinhosa.
Mas como boa princesa
é justa e luta pelas boas causas.
Reina absoluta do alto da minha construção.
Meus moradores só me confundem
quando resolvem se reunir
e dar uma festa.
São tantos risos, vozes, músicas e gritos!
Me dá uma dor de cabeça.....
3 Comentários:
Maravilhoso, bonito, sensivel, inteligente, interessante, adorei! Tudo isso é você. Todos os moradores da sua alma são um pouquinho de você. Parabéns! Seus textos me encantam.
Que mais eu posso dizer??
Sensacional?
Magnífico?
Magnânimo??
Onipotente?
Sei lá.
Vc gastou todas as palavras q se poderia usar até prá te elogiar.
Caralho, bicho!
Depois vc fala de mim...
É o mesmo que eu li o natal né?
No começo eu achei que era um dejavu mas deixa quieto.
Muito bunito viu parabéns!!!
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