Mundo Feminino
A noite estava fria como de costume e quando Sara abriu a porta do apartamento sentiu alívio pelo aquecimento interno já estar ligado. Da porta pode ver a silhueta de Samuel sentado no sofá da sala. A luz estava apagada, mas ela o reconheceria à distância.
- E aí Sam, como foi seu dia? Quer comera alguma coisa? Vou preparar um lanche.
O apartamento era pequeno, mas Sara agradecia a Deus, por tê-lo conseguido por trabalhar na construção civil e plea possibilidade de poder morar sozinha sem que dividi-lo com mais alguém. Sam já era o suficiente. Da cozinha ela podia vê-lo e a enorme sombra que ele provocava na parede: ombros largos e cabeça correta.
Sara trouxe o lanche para a sala, sentou-se no outro sofá e cobriu as pernas com a manta:
- Um dia eu gostaria de preparar um grande jantar para nós dois. Um jantar com mesa arrumada. Nos meus sonhos eu me vejo sentada numa grande mesa com nossos filhos. Eu numa ponta da mesa e você na outra ponta. Eu sei que eu poderia ter filhos. Sério! Eu sinto! Nós teríamos dois meninos e uma menina. Dois meninos! Eu sinto que eu poderia ter dois meninos... E nós comeríamos batatas com carne assada. Você ri? Pois eu me lembro que minha avó dizia que no tempo dela era essa a comida preferida de meu avô. Batatas com carne assada... Que gosto será que tem? Que cheiro terá? Que cheiro terá uma criança? Como será viver com uma criança? Um menino... Só um menino... Imagine Sam, um menino no meio desse planeta cheio de mulheres? Como posso sentir tanta falta de uma coisa que nem sei como é? Eu poderia ser uma daquelas mulheres escolhidas para gerar uma criança, não é Sam? Já pensou Sam, escolherem meu nome? Eu ainda estou em idade para gerar uma criança. Não! Não quero pensar nisso... Está ficando frio aqui... Vamos para o quarto Sam... Hoje estou muito cansada e triste... Vem! Eu lhe ajudo a se deitar. Minhas costas estão pegando fogo. O trabalho está ficando cada vez mais pesado e sinto que não fui feita pra ele. Abrace-me Sam, estou me sentindo muito sozinha hoje. Às vezes fico pensando, por que o mundo teve que ficar assim? Eu sei que o que aconteceu já foi há muitos anos. Quase uns sessenta anos. Mas será que naquela época as mulheres também se sentiam assim como estou me sentindo essa noite? Com certeza não! O mundo daquela época era mais lindo, com mais coisas para se ver. Havia dias de sol, riso de crianças, carne assada e homens, muitos homens. O que terá acontecido Sam? O que terá acontecido de verdade? Dizem que foram as experiências que fizeram com as grávidas daquela época e que depois os médicos perceberam que só nasciam meninas. Dizem também que foram as guerras, as bombas, que provocaram as mudanças. Foram tantas as bombas que algo mudou na biologia e de repente não nasciam mais meninos. Aí eles começaram a estocar espermatozoides dos homens existentes, pois e a coisa continuasse como estava, com o tempo acabariam os homens do planeta.
Estou tão triste Sam. Talvez eu não fale mais. Talvez eu chore. Mas estou tão cansada e triste. Será que naquela época as mulheres ficavam tristes, se sentindo sozinhas, sem ter um abraço de homem para dar conforto, apoio, segurança? Será que elas, no final do dia se sentiam tão cansadas por fazer um trabalho que deveria ser feito por um homem? Acho que não. As mulheres daquela época deviam ter sempre um companheiro para elas colocarem a comida e depois conversar. Uma vez eu vi uma revista exposta na antiga biblioteca. Na revista tinha fotos de casais e nelas as mulheres estavam sempre sorrindo. Elas deviam ser muito felizes. Ouvi dizer que há continentes que ainda tem homens. Homens velhos e poucos, mas que eles ainda existem. Uma vez, quando eu era bem mocinha, minha mãe quis me dar para uma mulher que dizia que ia para esse lugar. Minha mãe dizia que talvez eu tivesse uma chance de engravidar naturalmente de um homem. Minha mãe foi uma das sorteadas, mas pelo visto, ela não teve muita sorte, não é Sam? Céus! Por que a noite de hoje está tão fria? Acho que não foi só isso que aconteceu. Isso... de só nascer meninas. Naquela época o mundo estava repleto de guerras, conflitos, revoluções. Pelo menos isso terminou... Pelo menos vivemos em paz agora. O Conselho das Anciãs diz que os homens só sabiam viver lutando e que estamos melhor sem eles. Mas não estávamos preparadas para cuidar sozinhas do planeta... Nenhuma de nós está preparada para viver sozinha... Sam! Acho que estou doente. Se eu morrer ninguém vai sentir a minha falta. Nem no trabalho. Logo outra mulher vai tomar o meu lugar e tudo voltará ao normal. Ainda bem que você existe Sam. Ainda bem que eu o encontrei e agora você é meu único e verdadeiro amigo. Abrace-me Sam, por que eu não aguento mais tanto frio dentro do meu peito... A vida está tão sem sentido... Sem sonhos... Sem objetivos... Eu preciso tanto dormir... Abrace-me Sam...
Somente três dias depois, a equipe de segurança da cidade, conseguiu entrar no apartamento, seguindo uma denúncia da empresa onde Sara trabalhava, que dizia que ela estava ausente das suas funções.
A equipe a encontrou em sua cama carinhosamente abraçada ao modelo AM-36. Era um modelo barato, que já havia saído do mercado, há algumas décadas, mas que representava bem uma cópia humana masculina.
As policiais nunca conseguiram entender o porquê das marcas deixadas na face do modelo. Se ele fosse humano poderiam pensar que ele havia chorado. "Se" ele fosse humano... Mas ele era só um companheiro de borracha e silicone.
- E aí Sam, como foi seu dia? Quer comera alguma coisa? Vou preparar um lanche.
O apartamento era pequeno, mas Sara agradecia a Deus, por tê-lo conseguido por trabalhar na construção civil e plea possibilidade de poder morar sozinha sem que dividi-lo com mais alguém. Sam já era o suficiente. Da cozinha ela podia vê-lo e a enorme sombra que ele provocava na parede: ombros largos e cabeça correta.
Sara trouxe o lanche para a sala, sentou-se no outro sofá e cobriu as pernas com a manta:
- Um dia eu gostaria de preparar um grande jantar para nós dois. Um jantar com mesa arrumada. Nos meus sonhos eu me vejo sentada numa grande mesa com nossos filhos. Eu numa ponta da mesa e você na outra ponta. Eu sei que eu poderia ter filhos. Sério! Eu sinto! Nós teríamos dois meninos e uma menina. Dois meninos! Eu sinto que eu poderia ter dois meninos... E nós comeríamos batatas com carne assada. Você ri? Pois eu me lembro que minha avó dizia que no tempo dela era essa a comida preferida de meu avô. Batatas com carne assada... Que gosto será que tem? Que cheiro terá? Que cheiro terá uma criança? Como será viver com uma criança? Um menino... Só um menino... Imagine Sam, um menino no meio desse planeta cheio de mulheres? Como posso sentir tanta falta de uma coisa que nem sei como é? Eu poderia ser uma daquelas mulheres escolhidas para gerar uma criança, não é Sam? Já pensou Sam, escolherem meu nome? Eu ainda estou em idade para gerar uma criança. Não! Não quero pensar nisso... Está ficando frio aqui... Vamos para o quarto Sam... Hoje estou muito cansada e triste... Vem! Eu lhe ajudo a se deitar. Minhas costas estão pegando fogo. O trabalho está ficando cada vez mais pesado e sinto que não fui feita pra ele. Abrace-me Sam, estou me sentindo muito sozinha hoje. Às vezes fico pensando, por que o mundo teve que ficar assim? Eu sei que o que aconteceu já foi há muitos anos. Quase uns sessenta anos. Mas será que naquela época as mulheres também se sentiam assim como estou me sentindo essa noite? Com certeza não! O mundo daquela época era mais lindo, com mais coisas para se ver. Havia dias de sol, riso de crianças, carne assada e homens, muitos homens. O que terá acontecido Sam? O que terá acontecido de verdade? Dizem que foram as experiências que fizeram com as grávidas daquela época e que depois os médicos perceberam que só nasciam meninas. Dizem também que foram as guerras, as bombas, que provocaram as mudanças. Foram tantas as bombas que algo mudou na biologia e de repente não nasciam mais meninos. Aí eles começaram a estocar espermatozoides dos homens existentes, pois e a coisa continuasse como estava, com o tempo acabariam os homens do planeta.
Estou tão triste Sam. Talvez eu não fale mais. Talvez eu chore. Mas estou tão cansada e triste. Será que naquela época as mulheres ficavam tristes, se sentindo sozinhas, sem ter um abraço de homem para dar conforto, apoio, segurança? Será que elas, no final do dia se sentiam tão cansadas por fazer um trabalho que deveria ser feito por um homem? Acho que não. As mulheres daquela época deviam ter sempre um companheiro para elas colocarem a comida e depois conversar. Uma vez eu vi uma revista exposta na antiga biblioteca. Na revista tinha fotos de casais e nelas as mulheres estavam sempre sorrindo. Elas deviam ser muito felizes. Ouvi dizer que há continentes que ainda tem homens. Homens velhos e poucos, mas que eles ainda existem. Uma vez, quando eu era bem mocinha, minha mãe quis me dar para uma mulher que dizia que ia para esse lugar. Minha mãe dizia que talvez eu tivesse uma chance de engravidar naturalmente de um homem. Minha mãe foi uma das sorteadas, mas pelo visto, ela não teve muita sorte, não é Sam? Céus! Por que a noite de hoje está tão fria? Acho que não foi só isso que aconteceu. Isso... de só nascer meninas. Naquela época o mundo estava repleto de guerras, conflitos, revoluções. Pelo menos isso terminou... Pelo menos vivemos em paz agora. O Conselho das Anciãs diz que os homens só sabiam viver lutando e que estamos melhor sem eles. Mas não estávamos preparadas para cuidar sozinhas do planeta... Nenhuma de nós está preparada para viver sozinha... Sam! Acho que estou doente. Se eu morrer ninguém vai sentir a minha falta. Nem no trabalho. Logo outra mulher vai tomar o meu lugar e tudo voltará ao normal. Ainda bem que você existe Sam. Ainda bem que eu o encontrei e agora você é meu único e verdadeiro amigo. Abrace-me Sam, por que eu não aguento mais tanto frio dentro do meu peito... A vida está tão sem sentido... Sem sonhos... Sem objetivos... Eu preciso tanto dormir... Abrace-me Sam...
Somente três dias depois, a equipe de segurança da cidade, conseguiu entrar no apartamento, seguindo uma denúncia da empresa onde Sara trabalhava, que dizia que ela estava ausente das suas funções.
A equipe a encontrou em sua cama carinhosamente abraçada ao modelo AM-36. Era um modelo barato, que já havia saído do mercado, há algumas décadas, mas que representava bem uma cópia humana masculina.
As policiais nunca conseguiram entender o porquê das marcas deixadas na face do modelo. Se ele fosse humano poderiam pensar que ele havia chorado. "Se" ele fosse humano... Mas ele era só um companheiro de borracha e silicone.
1 Comentários:
Ai Tutty, que cruzes!
Eu prefiro mil vezes chorar por um safado que não ter por quem chorar!
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