O Tejo

Ouvi Maria Betânia recitar essa poesia de Alberto Caeiro e achei tão linda!

Me lembrei de quando era menina cresci numa rua em que atraz das casas corria um rio. Esse rio era importante em nossas vidas, por que quando chovia ele transbordava e, em cada família que vivia à sua margem, havia uma história triste de alguma criança que havia sido levada por por suas águas. Ele não era o mais belo rio que corria pelo meu bairro, mas foi um rio que deixou lembranças.

O Tejo é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia,
Mas o Tejo não é mais belo que o rio que corre pela minha aldeia
Porque o Tejo não é o rio que corre pela minha aldeia.

O Tejo tem grandes navios
E navega nele ainda,
Para aqueles que vêem em tudo o que lá não está,
A memória das naus.

O Tejo desce de Espanha
E o Tejo entra no mar em Portugal.
Toda a gente sabe isso.
Mas poucos sabem qual é o rio da minha aldeia
E para onde ele vai
E donde ele vem.
E por isso, porque pertence a menos gente,
É mais livre e maior o rio da minha aldeia.

Pelo Tejo vai-se para o mundo.
Para além do Tejo há a América
E a fortuna daqueles que a encontram.
Ninguém nunca pensou no que há para além
Do rio da minha aldeia.

O rio da minha aldeia não faz pensar em nada.
Quem está ao pé dele está só ao pé dele.

In O Guardador de Rebanhos