Um filho rapagão a dormir
Nesses dias de "ninho vazio" me lembrei de um texto do meu rei Artur da Távola:

Lembro-me de repente de um instante no passado: um de meus filhos, então rapaz, a dormir no sofá da sala, o livro caído a seu lado. Em um filho jovem, mesmo um latagão, a dormir, aflora a criança desvalida e fraca.
Some a expressão dos olhos, os significados da voz de machinho, descansam os músculos faciais que definem os traços representativos dos disfarces e defesas que inventamos para sobreviver.
Um rosto de jovem, deitado e de olhos fechados, faz cessar por instantes as intensidades e discordâncias daquele novo ser pulsátil, cheio de idéias, atitudes, pontos de vista, competições, raiva até da dependência de tantos anos aos pais.
Um rosto de jovem, deitado e de olhos fechados, faz cessar por instantes as intensidades e discordâncias daquele novo ser pulsátil, cheio de idéias, atitudes, pontos de vista, competições, raiva até da dependência de tantos anos aos pais.
Há um breve retorno à desproteção da infância, que renova no pai uma forma poética e emocionada de apego aos filhos.
Raras vezes nos é permitido reter a infância dos filhos, esvaída na ânsia de descobertas e justas independências, quando eles ‘ajovecem’.
Raras vezes nos é permitido reter a infância dos filhos, esvaída na ânsia de descobertas e justas independências, quando eles ‘ajovecem’.
Ao contemplá-los assim, fortes mas vulneráveis, dentro de nós latejam misteriosas intensidades.
Somos pedaços de complexidade ganindo ânsias de harmonia e integração. Dentro de nós lavra um afã constante, preparação do vir-a-ser. É a evolução, inevitável.
Somos um esforço sem trégua para alcançar um ‘adiante’ que engendrará novas disposições de avanço na direção do não se sabe.
Somos pedaços de cansaço feliz por buscar o que, alcançado, transforma-se em plataforma de novos embarques.
Somos um lindo e conturbado espetáculo de luta e jardim.
Somos a natureza no esforço de existir e propagar a espécie.
Somos a expressão dolorosa da ânsia de existir.
Assim somos. A/penas.
E vemo-nos como tal no filho rapagão a dormir.
Por isso, quando de olhos abertos, falando, pregando, querendo, clamando, postulando ou dizendo, somos um cansaço em andamento; somos o nosso doloroso miolo, busca constante de transcendência, transparência e harmonia, ideais da divindade que mora em nós, incompleta, sempre em andamento, em busca da transformação, como o universo.
Mas ver o filho a dormir ali, jovem, descuidado, grandalhão, é encontrar a criança que nele mora.
Por isso, quando de olhos abertos, falando, pregando, querendo, clamando, postulando ou dizendo, somos um cansaço em andamento; somos o nosso doloroso miolo, busca constante de transcendência, transparência e harmonia, ideais da divindade que mora em nós, incompleta, sempre em andamento, em busca da transformação, como o universo.
Mas ver o filho a dormir ali, jovem, descuidado, grandalhão, é encontrar a criança que nele mora.
E é ser pai de novo.
Por certo quem me lê já viveu essa emocionada alegria antecipatória de saudades que se aproximam.
Publicada em 31 de janeiro de 2008
Publicada em 31 de janeiro de 2008

2 Comentários:
ai ai...olha a sd batendo na sua porta rs
Bjos querida
Amor latente.
E q dizer da casa vazia então?
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