Rebeca

Entrei no quarto,
abri todas as portas do guarda-roupa,
as gavetas da cômoda, do criado-mudo.
Sentei na cama ao lado dos livros abertos e dos diários.
Imaginei-me morta.
Tentei ser outra pessoa arrumando meu quarto.
Com certeza essa pessoa ficaria muito intrigada
com os objetos que encontraria no meu aposento.
E milhares de perguntas ficariam sem respostas.
Porque eu teria guardado esse pedaço de fita verde?
Um botão de farda, uma rosa de pano,
uma caixa de fósforo com uma ficha antiga de orelhão dentro,
um brinco de penas,
um número anotado numa folha, recortes de jornal,
uma frase marcada numa página de um livro,
um pedaço de papel de presente,
um desenho feito à lápis num guardanapo de bar,
um tíquete de exposição, ramos de trigo,
um comprimido, um molde de blusa,
uma caixinha de rouge, uma lata de talco antiga,
um sapatinho de boneca...
Objetos que certamente seriam desprezados por qualquer pessoa,
mas que mereceram minha atenção
e que contém uma história.
Meus tesouros.

Minha herança.
Não sei se escrevo a história de cada objeto
e reservo para a pessoa que fará a limpeza no meu quarto ou,
como uma Rebeca,
deixo que o mistério envolva minha memória....
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