Já ganhei folhinha esse ano

"A excitação de Laurita começava nos primeiros dias de dezembro, quando as folhinhas passavam a ser distribuídas como brinde pelo dono do mercadinho, da farmácia, do açougue onde morava, uma cidade do interior, ponte Nova, como já disse:
-Ainda não ganhei folhinha esse ano! - dizia ela antes de pedir o pão da padaria, o remédio para a pressão na farmácia, o meio quilo de patinho no açougue.
Entrava ano, saía ano tinha aquelas folhinhas com donas-de-casa molhando o jardim bem americano, com aquele cachorro saltitante tentando atingir a água que vinha da mangueira. Eram loiras com olhar ingênuo vestindo camisa xadrez e chapéu de palha e as folhinhas temáticas: automóveis, animais, artistas de cinema.
No dia em que dependurava a folhinha dos santos atrás da porta da cozinha, Laurita fazia questão de duas coisas: ver que dia do ano cairia o seu aniversário e se fevereiro tinha 28 ou 29 dias".
Trecho do livro "Admirável Mundo Velho", de Alberto Villas, que ganhei de presente de Natal de minha Tia Iára.
Por que esse texto é importante pra mim? Por que ele fala exatamente do presente que minha Tia Iraci me dá há vários anos, criando assim uma tradição e um elo entre eu e ela: o meu calendário de pano-de-prato que todo final de ano aguardo anciosa para pendurar na parede da minha cozinha.
Já está prometido: um dia faço uma exposição com todos os meus inúmeros calendários!
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