Conselho de Amiga

Por experiencia e observação descobri que mulher alguma deve ficar sozinha em frente a um tanque, de uma pia ou de uma mesa cheia de roupas pra lavar ou passar.

Sempre deve haver um rádio ligado em qualquer programa irritante, ou uma televisão com músicas barulhentas, ou até mesmo aquela amiga que não para de falar da vida alheia.

Fazer esses trabalhos que exigem somente repetição nos leva a um estágio de hipnose que não nos damos conta e, por estar ali parada, somente ouvindo o barulho da água correr ou do ferro de passar deslizando sobre o tecido, deixamos nossos pensamentos voarem.

As vezes isso é bom e criativo. Podemos observar melhor as formas das bolhas de sabão, da espuma entre nossos dedos e da água descendo pelo ralo.

Mas outras vezes viajamos para momentos que deveriam estar esquecidos, trancados em alguma gaveta no porão do nosso inconciente.

E por estarmos sozinhas vamos viajando cada vez mais fundo, mais fundo em nossos pensamentos.

E se, por obra do destino ou de algo mais sobrenatural, encostamos os dedos no ferro quente, simplesmente, num susto, voltamos a realidade. O que nos salva!

Mas se em outra ocasião o sobrenatural não se mostra tão presente, podemos levar não só nossa mente, mas também nosso corpo para esse pantano de areia movediça em que nos afundamos, enquanto flutuamos, nesses gestos tão simples de lavar e passar.